O Ministério Apostólico 10/10

Por Caramuru A. Francisco

Os “apóstolos pós-modernos” assim se consideram diante dos demais homens? Será por isso que se intitulam “apóstolos”? Não, não e não! Como assinala, em texto muito feliz, o pastor Ricardo Gondim, “…O que preocupa nos apóstolos pós-modernos é ainda mais grave. Tem a ver com a nossa natureza que cobiça o poder, que se encanta com títulos e que fez do sucesso uma filosofia ministerial. Há uma corrida frenética acontecendo nas igrejas de quem é o maior, quem está na vanguarda da revelação do Espírito Santo e quem ostenta a unção mais eficaz. Tanto que os que se afoitam ao título de apóstolo são os líderes de ministérios de grande visibilidade e que conseguem mobilizar enormes multidões. Possuem um perfil carismático, sabem lidar com massas e, infelizmente, são ricos.” (Não quero ser apóstolo. Disponível em: http://www.jesussite.com.br/acervo.asp?id=1065 Acesso em 06 fev. 2010).

Esta motivação dos “apóstolos do século XXI” faz com que se tenha a negação completa do que vimos até aqui a respeito do apostolado. Ainda que se entendesse que o ministério apostólico continuasse nos dias hodiernos, uma tal motivação não encontraria guarida na Bíblia para que reconhecêssemos como legítimos apóstolos homens que buscam poder, que se dizem superiores aos demais crentes.

Aos doze, Jesus disse que o apostolado os tornava servos de todos os demais, não o maior dentre os crentes; aos doze, Jesus disse que tinham de ser testemunhas das Escrituras, não os portadores de “novas mensagens”, de “novas revelações”; aos doze, Jesus disse que deveriam ser “revestidos de poder”, do mesmo Espírito Santo que Ele havia assoprado sobre eles (Jo.20:22) e que serviria para glorificar o Filho (Jo.1¨6:13,14) e não “uma nova unção”, que nos distancia da simplicidade que há em Cristo, exatamente o que o “pai espiritual” deve impedir que aconteça (II Co.11:3,4; Gl.1:8,9).

Ademais, nestes “apóstolos do século XXI” não vemos os sinais que caracterizavam o apostolado de Paulo. Paulo, para demonstrar que não inferior aos demais apóstolos, fez questão de lembrar aos coríntios que não era rude na ciência, anunciara de graça o evangelho de Deus, era ministro de Cristo, tinha um currículo de sofrimentos por causa do Evangelho, não se considerar nem ser superior a qualquer crente, bem como ter intimidade com Deus (II Co.11-12).
Nos “apóstolos do século XX!”, no entanto, o que vemos não é coisa alguma destas características. Como afirma o irmão batista Márcio Redondo, “…Minha dificuldade em aceitar o movimento apostólico dos nossos dias reside em que os ‘apóstolos’ modernos não viram Jesus ressuscitado, não foram designados pessoalmente pelo próprio Jesus, não realizam prodígios e sinais como na época do Novo Testamento e, ao contrário dos apóstolos do século I, se preocupam com a distribuição territorial. Minha conclusão é que tais pessoas declaram-se apóstolos, mas na verdade nunca o foram (2 Coríntios 11.13; Apocalipse 2.2)” (Apostolado ou apostolice. Disponível em: http://camposdeboaz.xn.blog.br/apostolado-ou-apostolice-marcio-redondo Acesso em 06 fev. 2010).

Com efeito, quando olhamos para um “apóstolo” ali, vemo-lo explorando o povo financeiramente, o que apóstolo algum faria;se olhamos para outro lá, vemo-lo envolvido em processos criminais, com os delitos comprovados e que dão até condenações judiciais (não no Brasil, claro, pois o Brasil é a nação da impunidade…); se, todavia, dirigimo-nos para acolá, vemos outro “apóstolo” lutando por territórios e por espaços na mídia, em luta insana com outras denominações, querendo ser o “maior” na mídia; se, por fim, atentamos para aquele que está mais para lá, vemo-lo usando de subterfúgios para “mostrar” poder como neurolinguística, adivinhação ou emocionalismos; quando, então, caminhamos em direção àquele outro ali, ele, baseado em sua “cobertura apostólica”, domina a fé dos crentes, que estão ligados a ele por “alianças espirituais”, pela “geração espiritual”, devendo ser “respeitado e obedecido”. Como podemos, então, dizer que tais homens são apóstolos? Postos à prova, provam não sê-lo (Ap.2:2).

Esta “apostolice” é mais um eloquente sinal de que estamos em plena apostasia, no ocaso de nossa dispensação. Olhemos para Jesus, o autor e consumador da nossa fé, para que não sejamos enganados e peçamos a Deus misericórdia para que alcancemos, no final de nossa jornada, o mais importante título que alguém pode conseguir: o de servo. Amém!

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