É Pecado ao Cristão os Jogos de Aposta?
Por Augustus N. Lopes
Já me fizeram esta pergunta
várias vezes. Sou contra jogos de azar, mas este é o tipo de posição que admite
revisão se me aparecerem argumentos melhores e mais coerentes do que aqueles
que vou colocar aqui.
Entre os jogos de azar estão
aqueles jogos permitidos por lei, que são as várias modalidades de loteria, os
bingos - este último, muito usado até por igrejas cristãs e instituições - e os
sorteios pelo telefone valendo dinheiro, carros e outros prêmios. Quem explora
este tipo de jogo tem licença de órgão público competente. Mas nem por isso
quer dizer que sejam jogos que convêm ao crente.
Temos também os jogos ilícitos,
cujo mais popular é o Jogo do Bicho. Os cassinos são mais uma modalidade de
jogos de azar cuja legalidade e implantação oficial está sendo discutida no
Brasil. Para o cristão, o que realmente importa é se estas modalidades de jogo
acabam por afetar algum princípio bíblico.
A Bíblia não proíbe de forma
explícita os jogos de azar. Entretanto, nossa ética é elaborada não somente com
aquilo que a Bíblia ensina explicitamente como também com aquilo que pode ser
legitimamente derivado e inferido das Escrituras. Existem diversos princípios
bíblicos que deveriam fazer o crente hesitar antes de jogar:
1. O trabalho é o caminho normal
que a Bíblia nos apresenta para ganharmos o dinheiro que precisamos, Ef 4:28;
2Ts 3:12; Pv. 31. Quando uma pessoa não pode trabalhar, por motivos diversos,
desde desemprego até incapacidade, ela deve procurar outros meios de sustento e depender de Deus pela oração (Fp
4.6, 19). A probabilidade da situação do desempregado piorar ainda mais se ele
gastar seu pouco dinheiro em jogo é muito grande.
2. Tudo que ganho pertence a Deus
(Sl 24.1), e como mordomo, não sou livre para usar o dinheiro do jeito que
quiser, mas sim para atingir os propósitos de Deus. E quais são estes
propósitos? Aqui vão alguns mencionados na Palavra: (1) Suprir as necessidades
da minha família (1Tm 5.8), o que pode incluir, além de sustento e educação,
lazer e outras atividades que contribuam para a vida familiar; (2) compartilhar
com os irmãos que têm necessidades e sustentar a obra do Evangelho (2Co 8-9; Gl
6:6-10; 3 João; Ml 3.10).
3. Deus usa o dinheiro para
realizar alguns importantes propósitos em minha vida: suprir minhas
necessidades básicas (Mt 6:11; 1Tm 6:8); modelar meu caráter (Filip 4:10-13);
guiar-me em determinadas decisões pela falta ou suficiência de recursos; ajudar
outros por meu intermédio; mostrar seu poder provendo miraculosamente as minhas
necessidades. Jogar na loteria não contribui para qualquer destes objetivos.
4. Cobiça e inveja são pecado (Ex
20:18; 1Tm 6:9; Heb 13:5), e são a motivação para os jogos de azar na grande
maioria das vezes. A atração de ganhar dinheiro fácil tem fascinado a muitos
evangélicos.
5. Existem várias advertências no
livro de Provérbios sobre ganhar dinheiro que podem se aplicar aos jogos de
azar: o desejo de enriquecer rapidamente traz castigo (Pv 28.20,22); o dinheiro
que se ganha facilmente vai embora da mesma forma (Pv 13.11); e riqueza acumulada
da forma errada prejudica a família (Pv 15.27).
Uma palavra aos presbiterianos do
Brasil: o Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana do Brasil enquadra os jogos
de azar como quebra do oitavo mandamento, “não furtarás”. Após fazer a
pergunta, “Quais são os pecados proibidos no oitavo mandamento?” (P. 142),
inclui na reposta “o jogo dissipador e todos os outros modos pelos quais
indevidamente prejudicamos o nosso próprio estado exterior, e o ato de
defraudar a nós mesmos do devido uso e conforto da posição em que Deus nos
colocou”. É claro que esta posição oficial da IPB vale para seus membros, mas
não deixa de ser interessante verificar os argumentos usados e sua
aplicabilidade para os cristãos em geral.
É importante lembrar, ainda, que
os jogos de azar são responsáveis por muitos males sociais, emocionais e
jurídicos no povo, tanto de crentes como de não crentes. Menciono alguns deles:
1. O empobrecimento. Há pessoas
que são cativadas pelo vício de jogar e, diariamente estão jogando. E, como só
um ou poucos ganham, há pessoas que passam a vida toda jogando sem nunca
ganhar. Não poucos perderam tudo o que tinham em jogos. Muitos pais de família
pobres gastam o dinheiro da feira no jogo.
2. O vício de jogar apostando
dinheiro. A tentação para jogar começa desde cedo a estimular uma compulsão
entre crianças e jovens que começam a adquirir o hábito de “tentar a sorte”. Há
milhares de jovens que já são viciados no jogo, especialmente com a vinda da
internet e a possibilidade de jogos online com apostas.
3. Arruinar vidas e carreiras.
Não são poucas as histórias de pessoas que se arruinaram financeiramente
jogando na bolsa de valores – conheço pelo menos uma pessoa nesta condição – ou
apostando em outros tipos de jogo.
4. Jogar dinheiro fora. As
chances de se ganhar na loteria são piores do que se pensa. Para efeito de
comparação, a probabilidade de uma pessoa morrer em um atentado terrorista
durante uma viagem ao exterior é de 1 em 650 mil e atingida por um raio é de 1 em
30 mil. Se uma pessoa compra 50 bilhetes a cada semana, ela irá ganhar o prêmio
principal uma vez a cada 5 mil anos.
Outra pergunta frequente é se as
igrejas deveriam receber ofertas e dízimos de dinheiro ganho em loteria. Minha
tendência é dizer que não deveriam. Guardadas as devidas proporções, lembro que
no Antigo Testamento o sacerdote era proibido de receber oferta de dinheiro
ganho na prostituição (Dt 23:18) e que no Novo, Pedro recusou o dinheiro de
Ananias e Safira (At 5) e de Simão Mago (At 8:18-20).
Alguém pode dizer que o valor
gasto nas apostas em casas lotéricas é muito pequeno. Concordo. Mas é uma
questão de princípio e não de quantidade. Quando o que está em jogo são
princípios, um centavo vale tanto quanto um milhão.
Nota/Fonte: O título é do editor
do blog e o texto foi extraído do blog O tempora, O Mores. Em
http://tempora-mores.blogspot.com.br/2013/04/jogos-de-azar-pode-ou-nao.html
Como você disse, o maior problema dos jogos é querer apressar a benção de Deus sobre nossa vida. Além do vício, é claro.
ResponderExcluir