Os Dízimos e as Ofertas na Bíblia (Parte 1)
Por Caramuru A. Francisco
O dízimo, pelo que verificamos, na Bíblia Sagrada, é muito
mais do que uma despesa ou um tributo de dez por cento do que ganhamos, é muito
mais do que uma simples cláusula contábil. Deus não precisa do nosso dinheiro
para sustentar a Sua obra, pois é o dono de todo ouro e de toda a prata
(Ag.2:8), mas é através do dízimo que revelamos aquilo que está dentro de nosso
homem interior, o conceito que temos de Deus e de nós mesmos, se nos
consideramos mordomos do Senhor ou "donos dos nossos próprios
narizes".
III - O DÍZIMO E A OFERTA NA BÍBLIA
Pelo que podemos deduzir das Escrituras Sagradas, desde os
primórdios da civilização, ainda na primeira geração de homens após a queda do
Éden, havia o costume de se cultuar a Deus com a apresentação de produtos do
trabalho humano, como demonstração de gratidão e de reconhecimento da soberania
de Deus sobre todas as coisas. Assim, vemos Caim e Abel, os dois filhos mais
velhos do primeiro casal, apresentando ofertas ao Senhor, num gesto que se
infere fosse costumeiro e resultado do ensino dos pais a estes filhos.
Entendemos, desta forma, que o primeiro casal tinha plena consciência de que
Deus era o dono de todas as coisas e que o resultado do trabalho humano, que
Deus dissera que seria penoso, era fruto da misericórdia divina que, apesar do
pecado, não tinha deixado de amparar o homem.
De pronto, pois, observamos que a oferta era apenas uma
demonstração material de reconhecimento da soberania divina. Não se procurava
agradar a Deus com bens, pois Deus, sendo o dono de todas as coisas, não
precisava de qualquer bem que lhe seja trazido pelo homem, até porque o bem
que, eventualmente, for trazido não é do homem, mas já é do Senhor (I
Cr.29:11-14; Sl.24:1). Deus Se agrada do gesto de gratidão e reconhecimento, do
que está no coração do homem, não do que está sendo apresentado em termos
materiais. Tanto assim é que, ao indagar Caim sobre sua oferta, Deus diz que
ele deveria ter feito bem, ou seja, não como um mero formalismo, não como um
mero ritual, mas como algo espontâneo e que proviesse do fundo da alma, pois,
somente neste caso é que haverá aceitação por parte do Senhor (Gn.4:7). No Novo
Testamento, este Deus que não muda nem n’Ele há sombra de variação (Tg.1:17),
torna a nos ensinar que Ele ama àquele que dá com alegria (II Co.9:7).
Este gesto de reconhecimento da soberania divina através da
entrega de uma parcela do produto auferido pelo trabalho, portanto, vem desde o
início da história da humanidade e é encontrado, mais tarde, entre os povos do
Oriente Próximo. Abraão, diz-nos a Bíblia, deu o dízimo de tudo a
Melquisedeque, por reconhecer nele um sacerdote de Deus (Gn.14:20). Isto nos
mostra, claramente, que o dízimo era um costume comum aos povos daquela época,
pois, não só Abraão deu o dízimo a Melquisedeque, como este o recebeu, o que
prova que se tratava de algo público e notório naquela época. Aliás, este
costume é relatado pelo historiador grego Heródoto, conhecido como o "pai
da História", em sua obra "História", em mais de uma passagem,
com relação a diferentes povos.
Pelo que se pode
observar, portanto, o gesto de se dar parte do produto auferido pelo trabalho
para a obra de Deus é algo que acompanha a própria história humana, tendo sido
fixado o percentual de dez por cento como patamar mínimo de tal contribuição,
daí porque ter sido tal parcela sido denominada de "dízimo".
O dízimo, observado que era por Abraão (o que, certamente,
mostra que se tratava de prática já existente entre os caldeus que, por sua
vez, eram os sucessores diretos da comunidade humana única pós-diluviana),
passou a seus descendentes, de modo que vemos, logo em seguida, notícia de que
Jacó também conhecia esta prática, tanto que a prometeu (Gn.28:22).
Este pequeno relato histórico faz-se necessário porque há
muitos que, hodiernamente, afirmam que o dízimo é um dispositivo previsto na
lei de Moisés e que, portanto, não é algo que deva ser observado pela Igreja,
que vive a dispensação da graça. Criticam as denominações evangélicas que
adotam o dízimo, chegando, mesmo, a chamá-los de "judaizantes",
quando não de mercenários. No entanto, pelo que podemos verificar, não só pelas
próprias Escrituras, como também na própria história da humanidade, o dízimo é
uma instituição que já existia bem antes da lei de Moisés e que não está
circunscrita ao povo judeu, o que faz cair por terra todas estas argumentações
que são trazidas, às vezes, por pessoas bem-intencionadas, que querem impedir
qualquer conotação materialista ao evangelho, mas que, no mais das vezes,
apenas se afiguram como justificativas de pessoas que, tal qual nos dias de
Malaquias, querem dar vestes teológicas à sua falta de amor a Deus.
Quando Moisés incluiu o dízimo na lei, por determinação
divina, nada mais fez senão incorporar no código legal organizado uma prática
que já era costumeira e adotada não só pelos israelitas, como por todos os
povos então existentes. Como o dízimo, e isto nos mostram tanto Abraão quanto
Jacó, tinha como finalidade a manutenção da obra de Deus, era preciso
reconhecer a sua prática e destiná-la para o sustento da tribo de Levi e,
dentre os seus membros, aos sacerdotes, já que estes não poderiam se dedicar
senão ao serviço do Senhor.
A primeira referência que a lei de Moisés faz aos dízimos
encontra-se, precisamente, no livro de Levítico, onde estão as normas a
respeito dos sacerdotes. O dízimo é tratado no final do livro, a partir do
versículo 30 do capítulo 27. Isto é importante porque mostra que, embora Deus
não tenha deixado de prever o sustento dos sacerdotes, que estavam envolvidos
no culto a Deus, não deveriam pôr o sustento material como prioridade em suas
vidas. Deus não deixa de cuidar do assunto, de providenciar os meios, antes de
encerrar o código de normas e condutas do sacerdote, mas não coloca isto como
algo que deva estar em primeiro lugar. Primeiro deveria vir o dever dos sacerdotes,
seu serviço diante de Deus. Depois, o cuidado com o seu sustento.
Lamentavelmente, muitos ministros têm cedido ao espírito
materialista que impera nos nossos dias, buscando, antes de tudo, ocupar-se de
como se sustentar, de como angariar meios para a sua sobrevivência, para só
depois se ocupar do seu trabalho diante de Deus. O obreiro é digno do seu
salário, mas devemos cuidar das coisas na mesma forma como Deus a estabelece em
Sua Palavra.
Segundo a norma dada no livro de Levítico, o dízimo de tudo
deveria ser separado ao Senhor, pois lhe era santo. A destinação do dízimo,
entretanto, encontra-se no livro de Números (Nm.18:20-32). O destino do dízimo
deveria ser a tribo de Levi, pois a sua herança no meio do povo de Israel
seriam, precisamente, os dízimos das demais tribos (Nm.18:21). Mas, ao mesmo
tempo em que os levitas eram os beneficiários dos dízimos, também deveriam
dizimar (Nm.18:26), pois também eles eram mordomos e tinham de reconhecer a
soberania divina. Os dízimos dos dízimos eram destinados ao sumo sacerdote
(Nm.18:28).
Os dízimos eram, como se pode observar, destinados ao
sustento dos levitas e dos sacerdotes. Esta é a destinação do dízimo segundo as
Escrituras. Abraão já o havia dado para um sacerdote e, agora, Moisés determina
que os dízimos tenham como finalidade o sustento da tribo separada para o
serviço do Senhor, ou seja, a destinação dada pela lei mosaica não é uma
inovação instituída por Moisés, não se trata de criação do legislador, nem de
uma ordem divina circunscrita à dispensação da lei, mas, antes, é uma
característica inerente à própria instituição do dízimo. Assim como dízimo é a
décima parte, assim é destinado para o sustento daqueles que, por estarem
envolvidos com as coisas de Deus, não têm condições para exercer um trabalho
mediante o qual obtenham o próprio sustento.
Em Dt.12:5-12, quando Moisés está a repetir a lei à geração
que adentraria na Terra Prometida, torna a dizer que o local apropriado para a
entrega dos dízimos era a casa do Senhor, reforçando, portanto, a finalidade de
tal instituição.
Mas, além de o dízimo ser determinado quanto à quantidade e
quanto à finalidade, também era determinado quanto à qualidade. Dizia a lei de
Moisés que se deveria oferecer "o melhor" (Nm.18:32), " do
melhor deles, a sua santa parte" (Nm.18:29). Bem ao contrário do que
acontecia nos dias do profeta Malaquias, a lei prescrevia que somente poderemos
demonstrar reconhecimento da soberania de Deus se a porção que separarmos para
a obra do Senhor for a melhor, a de primeira qualidade. Não é outro o sentido,
aliás, quando se diz que as "primícias da terra" devem ser levadas à
presença do Senhor, "primícias" (Nm.18:12), aqui querendo dizer não
só os primeiros frutos na ordem de aparecimento, como também na ordem da
qualidade (Pv.3:9).
Em o Novo Testamento, Jesus sancionou a prática do dízimo. Na
sua duríssima crítica aos fariseus, um dos poucos pontos que Jesus aprovou em
sua conduta foi, exatamente, o de serem rigorosos no dízimo. "Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e
desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis,
porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas" (Mt.23:23). Como se percebe nas declarações
de Jesus, o fato de os fariseus dizimarem até mesmo o que era utilizado no
tempero de suas comidas, é considerado algo louvável, algo que não deveria ser
omitido, que não deveria ser desprezado. Jesus disse que os fariseus deveriam
ser tão preocupados com o juízo, a misericórdia e a fé como eram com o dízimo
destas mínimas coisas, mas, em momento algum, disse que o dízimo deveria ser
omitido, mas, bem ao contrário, afirmou que o dízimo não poderia estar ausente
na conduta de um verdadeiro servo de Deus.
Assim, não tem qualquer respaldo bíblico o ensinamento que
muitos propalam de que o dízimo não pertence à dispensação da Igreja, que não
se encontra entre as condutas que devam ser observadas pelos salvos. Jesus
disse que não devemos omitir o dízimo e, portanto, se não podemos omitir,
devemos praticá-lo. O dízimo faz parte da conduta que Jesus espera de Seus
servos.
O texto completo em: www.portalebd.org
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