O Que o Natal Significa para Mim
Por C. S. Lewis
Há três coisas que
levam o nome de "Natal". A primeira é a festa religiosa. Ela é
importante e obrigatória para os cristãos mas, já que não é do interesse de
todos, não vou dizer mais nada sobre ela. A segunda (ela tem conexões histórias
com a primeira, mas não precisamos falar disso aqui) é o feriado popular, uma
ocasião para confraternização e hospitalidade. Se fosse da minha conta ter uma
"opinião" sobre isso, eu diria que aprovo essa confraternização. Mas
o que eu aprovo ainda mais é cada um cuidar da sua própria vida. Não vejo razão
para ficar dando opiniões sobre como as pessoas devam gastar seu dinheiro e seu
tempo com os amigos. É bem provável que elas queiram minha opinião tanto quanto
eu quero a delas. Mas a terceira coisa a que se chama "Natal" é,
infelizmente, da conta de todo mundo.
Refiro-me à chantagem
comercial. A troca de presentes era apenas um pequeno ingrediente da antiga
festividade inglesa. O Sr. Pickwick levou um bacalhau a Dingley Dell; o
arrependido Scrooge encomendou um peru para seu secretário; os amantes
mandavam presentes de amor; as crianças ganhavam brinquedos e frutas. Mas a
idéia de que não apenas todos os amigos mas também todos os conhecidos devam
dar presentes uns aos outros, ou pelo menos enviar cartões, é já bem recente e
tem sido forçada sobre nós pelos lojistas. Nenhuma destas circunstâncias é, em
si, uma razão para condená-la. Eu a condeno nos seguintes termos.
1. No cômputo geral, a
coisa é bem mais dolorosa do que prazerosa. Basta passar a noite de Natal com
uma família que tenta seguir a 'tradição' (no sentido comercial do termo) para
constatar que a coisa toda é um pesadelo. Bem antes do 25 de dezembro as
pessoas já estão acabadas – fisicamente acabadas pelas semanas de luta diária
em lojas lotadas, mentalmente acabadas pelo esforço de lembrar todas as pessoas
a serem presenteadas e se os presentes se encaixam nos gostos de cada um. Elas
não estão dispostas para a confraternização; muito menos (se quisessem) para
participar de um ato religioso. Pela cara delas, parece que uma longa doença
tomou conta da casa.
2. Quase tudo o que
acontece é involuntário. A regra moderna diz que qualquer pessoa pode forçar
você a dar-lhe um presente se ela antes jogar um presente no seu colo. É quase
uma chantagem. Quem nunca ouviu o lamento desesperado e injurioso do sujeito
que, achando que enfim a chateação toda terminou, de repente recebe um presente
inesperado da Sra. Fulana (que mal sabemos quem é) e se vê obrigado a voltar
para as tenebrosas lojas para comprar-lhe um presente de volta?
3. Há coisas que são
dadas de presente que nenhum mortal pensaria em comprar para si – tralhas
inúteis e barulhentas que são tidas como 'novidades' porque ninguém foi tolo o
bastante em adquiri-las. Será que realmente não temos utilidade melhor para os
talentos humanos do que gastá-los com essas futilidades?
4. A chateação. Afinal, em meio à algazarra, ainda temos nossas compras normais e necessárias, e nessa época o trabalho em fazê-las triplica.
Dizem que essa loucura
toda é necessária porque faz bem para a economia. Pois esse é mais um sintoma
da condição lunática em que vive nosso país – na verdade, o mundo todo –, no
qual as pessoas se persuadem mutuamente a comprar coisas. Eu realmente não sei
como acabar com isso. Mas será que é meu dever comprar e receber montanhas de
porcarias todo Natal só para ajudar os lojistas? Se continuar desse jeito,
daqui a pouco eu vou dar dinheiro a eles por nada e contabilizar como caridade.
Por nada? Bem, melhor por nada do que por insanidade.
Fonte: http://otdx.blogspot.com.br/2009/12/o-que-o-natal-significa-para-mim-por-cs.html
Comentários
Postar um comentário