José de Nazaré: Exemplo Bíblico de Paternidade

Por Francikley Vito

Quando fui perguntado sobre quem seria o melhor exemplo de pai na Bíblia, não precisei pensar muito para dar a minha resposta. Desde muito tempo tenho visto na pessoa de José, marido de Maria, um exemplo de paternidade aos moldes bíblicos. José filho de Jacó (Mt 1.16) é definitivamente uma das figuras mais piedosas já mostrada nas Escrituras Sagradas. Não temos muitas informações a respeito do homem que foi escolhido por Deus para ser o pai adotivo do Salvador, porém, na primeira menção que temos dele, somos informados que era um homem “justo” (Mt 1.19). Essa verdade será demonstrada em toda curta narrativa de sua vida nos Evangelhos (o evangelho Marcos não dá uma biografia de José). Embora pertencente à tribo de Judá, José não morava na região da Judéia (Lc 2.4); ao invés disso preferiu fixar residência na cidade de Nazaré, na região da Galileia. Na pequena cidade exercia a função de carpinteiro (é provável também que tenha sido pedreiro). Fiel as leis do seu povo, José aparece na narrativa Sagrada desposado de uma jovem cujo nome era Maria (Mt 1.18). Na cultura judaica o desposar de dois jovens era um compromisso que eles assumiam com suas famílias, consigo mesmos e com Deus, era tão real que o noivo já se dizia “marido” da mulher que escolhera para sua esposa; esse compromisso não poderia ser quebrado a não ser pelo repúdio, uma separação de acordo com a Lei (Dt 22.22ss). Os especialistas concordam que José era mais velho que Maria, mas não é possível precisar qual o número de anos que os separa. Por seu repentino sumiço das narrativas dos Evangelistas, entende-se que ele faleceu antes de Jesus ter começado seu ministério público. Alguns também acreditam que depois da morte de José a responsabilidade da família foi colocada a cargo de Jesus, por isso que, quando do seu batismo, com aproximadamente trinta anos, ele deixa a Galeleia e vai ter com João para se batizado por ele (Mc 1.9). A pergunta então é: o que fez de José um exemplo de paternidade bíblica?

Ele não deixou que o medo furtasse sua fé. José estava noivo com Maria, filha de Tiago; porém “antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido” (Mt1.18). Por ter sido honesto com sua futura mulher, José não sabia explicar como aquela gravidez pôde ter acontecido. E ele temeu. Temeu por ele mesmo, temeu pela reputação de Maria, e temeu pelo que a Lei mandava fazer nesses casos (Dt 22.29). Então “intentou deixá-la secretamente”. Ele não tinha certeza de nada e por ser justo não queria acobertar um possível pecado de Maria, mas também, por compaixão, recusou a entregar sua noiva ao processo formal da Lei (Nm 5.11-31), o que para ela seria uma vergonha. Então Deus falou. Diz a narrativa que “projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; e dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” (Mt 1.20-21). E José confiantemente creu. Creu que o que Deus dissera era não apenas verdade, mas o melhor para sua vida apesar do seu temor.

Não há coisa que atemorize mais os pais do que a incerteza quanto o futuro de seus filhos. Mas, como José, devemos crer que aquilo que Deus diz é a verdade. E que as promessas de que para aqueles que temem ao Senhor “os seus filhos como plantas de oliveira à roda da tua mesa” (Sl 128.3); e ainda, que “bem-aventurados serão os seus filhos depois dele” (Pv 20.7) hão de se cumprir. Não podemos deixar que o medo quanto ao futuro nos empeça de desfrutar de todas as bênçãos que Deus quer derramar sobre nós e sobre os nossos filhos hoje. Os nossos filhos são heranças do Senhor, a despeito dos nossos medos.

Ele não deixou de cuidar daquele que decidiu amar. O velho carpinteiro de Nazaré não havia planejado ter um filho tão inesperadamente com a mulher que escolhera como esposa; mas viu cumprir-se em sua trajetória o significado do seu nome (José significa ‘Deus acrescenta’). Ao “receber" Maria como sua esposa, Deus lhe fez pai terreno de Jesus. Ao obedecer ao mandato de Deus, José tomou para si a responsabilidade de amar e cuidar de uma nova família, e isso ele fez com toda perfeição. Levou o menino para ser purificado (Lc 2.22); conduzia-o às festas religiosas (Lc 2.41); fugiu com o menino para o Egito para que ele não fosse morto (Mt 2. 14) e obedeceu a Deus de maneira que a vontade d’Ele se cumprisse na vida do pequeno Jesus (Mt. 2. 23). José agiu como um pai para Jesus, mesmo sabendo que não o era de fato.

Como disse um grande teólogo, nós vivemos em um cenário inédito em nossa sociedade: temos crianças órfãs de pais vivos. Gosto das palavras dos psicólogos cristãos Gary Smalley e John Trent quando diz que o amor é uma questão de escolha, uma decisão. Segundo eles, “amor genuíno e colocar a honra [da outra pessoa] em prática, apesar de todos os custos”. José resolver honrar a Deus, sua esposa e sua família e essa honra era demonstrado pelo cuidado que ele demonstrava para com eles. O indesejado não pode ser desculpa para a ausência de amor ou de cuidado. O fato de um filho não ter sido planejado não nos isenta da responsabilidade de cuidar e amá-lo. O nosso amar é materializado no cuidar.

Ele não deixou de ser um exemplo. Em uma sociedade patriarcal, em que os homens ditavam as regras, o que muitas vezes os isentava de responsabilidades, o carpinteiro de Belém foi diferente. Resolveu seu um exemplo. Respeitou os dias de purificação de sua esposa como se o filho dela fosse também seu “até que” pudesse viver maritalmente com ela (Mt 1.25). Jesus herda de José a profissão de carpinteiro (Mc 6.13), mostrando que José se preocupou em ensinar aos seus filhos um trabalho; e um dos filhos legítimos de José e Maria leva o nome do Pai, que era conhecido como “o carpinteiro” (Mt 13.55). A paternidade de José era tão exemplar que até Maria, que sabia melhor que ninguém que Jesus não era filho legitimo dele, ao se referir à tensão de José diante do desaparecimento de Jesus diz que ele (José) era “seu pai” (Lc 2.48).

Os pais não podem esquecer que são eles os primeiros e mais forte exemplo para seus filhos. Como está escrito: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te” (Dt 6.5-7). Assim como José e o próprio Cristo nos deixou exemplos, devemos ser nós mesmos, exemplos para nossos filhos. Exemplos de conduta, no trato, de trabalho e, principalmente, de amor a Deus e obediência a Sua voz. Isso se torna ainda mais sério para aqueles que conhecem “aquele que é desde o princípio”(I Jo 2.13).

Termino lembrando que “Se sabeis que ele [Jesus] é justo, sabeis que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele” (I Jo 2.29); portanto “irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”(Rm 12.1-2 NVI). Quando vivermos de acordo com a vontade de Deus, temos a confiança de que erraremos menos na criação de nossos filhos. Amém.

Comentários

  1. Parabéns pela matéria! Precisamos ressaltar, nos meios cristão, bons exemplos, ícones aprovados por Deus! Pax!

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  2. Pax!É uma alegria para nós receber seu comentário. Um abraço.

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  3. parabéns pela linda mensagem !

    Edson L.
    Jaraguá do Sul,sc

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  4. Edson, a Paz de Cristo.
    Obrigado pelas palavras de incentivo. Um abraço.

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  5. um exemplo não só de pai,mas de homem integro,temente a Deus,um homen sensivel a voz do seu senhor,o que o senhor falava para ele fazer
    ele ia sem indaga o por que,para que.
    na sua obidiência cuidou,amou,ensinou ao seu
    senhor como se fosse seu próprio filho,que nós
    tome por exemplo de homem de Deus,e que nestes ultimos dias da igreja do senhor militando aqui na terra,venhamos ser sensivel,obidiente e intimo com o nosso Deus para executarmos todas as sua vontades e que o nome do senhor seja glorificado através de nossa maneira de viver,agir,obedece,amém...

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  6. Miqueias, a Paz de Cristo.
    Nós agradecemos e concordamos com o seu comentário; continue nos visitando. Um abraço.

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  7. Parabéns, que Deus o abençoe, que vc possa continuar a públicar mensagem como esta. Mensagem lida e que nos ensinam muito.

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  8. Obrigado pelas palavras de incentivo. Abraço.

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  9. Muito boa a sua reflexao! Fala-se pouco de Sao Jose, talvez por isso temos poucos homens que sao Pais a exemplo de Sao Jose!Obrigado por resgatar essa imagam de Pai!

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  10. Obrigado pelo seu comentário e continue nos visitando. Abraço.

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