O Problema do Mal na História das Ideias 2/2

Por Caramuru A. Francisco 


III -  As correntes de pensamento no tratamento do problema do mal: o monismo e as respostas ateístas e similares

O dualismo é a resposta mais imediata que se pode ter diante do problema do mal. Ao ver que, no mundo, existem tanto o bem quanto o mal, é até claro entender-se que bem e mal são forças existentes desde sempre no universo e que deverão assim existir ou, como defende a maior parte dos dualistas, uma das forças triunfará no término da história ou acabará havendo uma conciliação entre elas, com grandes e radicais transformações na ordem do universo. Entretanto, quando se pensa sob a perspectiva do dualismo, chega-se, também, a uma inevitável conclusão: Deus, se for considerado como a fonte do bem, não seria um ser onipotente, muito menos onipresente. Se temos duas forças contrárias, que se digladiam no universo, elas são da mesma natureza e grandeza, tanto assim que os zoroastristas, embora defendam a superioridade de Ahura Mazda em relação a Ahriman, não deixam de reconhecer nestas duas figuras dois deuses, exatamente porque, ao considerarem que há dois princípios, não podem reconhecer exista um único Deus. É, precisamente, esta a grande e insuperável dificuldade com que se enfrentarão os pensadores monoteístas ao analisarem o problema do mal, notadamente a partir do contacto do pensamento religioso judaico seja com o zoroastrismo, seja com a filosofia grega, a partir do domínio persa e helenístico, ou seja, depois do cativeiro babilônico e da própria conclusão da produção das Escrituras hebraicas. Se o mal existe, então Deus não seria o Ser perfeito, onipotente, onipresente que é revelado nas Escrituras ? Como conciliar a existência do mal com o caráter absoluto da divindade, que é solenemente proclamado na introdução aos dez mandamentos (cfr.Dt.6:4) ? A propósito, conhecida é a afirmação do filósofo grego  Epicuro (341-270 a.C.), que, apesar de materialista e ateu, como ninguém sintetizou a perplexidade que movimenta a mente dos pensadores monoteístas a respeito, que vale a pena transcrever : " Ou Deus deseja remover o mal deste mundo, mas não pode fazê-lo; ou Ele pode fazê-lo, mas não o quer; ou não tem nem a capacidade e nem a vontade de fazê-lo; ou, finalmente, ele tem tanto a capacidade como a vontade de fazê-lo. Ora, se Ele tem a vontade, mas não a capacidade de fazê-lo, então isso mostra fraqueza, o que é contrário à natureza de Deus. Se ele tem a capacidade, mas não a vontade de fazê-lo, então Deus é mau, e isso não é menos contrário à natureza. Se Ele não tem nem a capacidade, nem a vontade de fazê-lo, então Deus é ao mesmo tempo impotente e mau e, conseqüentemente, não pode ser Deus. Mas se ele tem tanto a capacidade como a vontade de remover o mal do mundo (a única posição coerente com a natureza de Deus), de onde procede o mal (unde malum ?), e por que Deus não o impede ? " (apud R.N. CHAMPLIN, op.cit., v.5, p.407).

Eis a questão que irá incomodar os filósofos e teólogos a partir do século II a.C. e, num certo sentido, até os dias de hoje. Não houve quem, precipitadamente, diante deste aparente paradoxo, não tenha preferido ver aí uma prova da inexistência de Deus. Assim, diante da constatação de que o mal existe, preferiram estes pensadores afirmar que, diante da existência do mal, Deus não existe. Segundo estes pensadores, pois, não há que se falar em bem ou mal, porquanto tais conceitos não passariam de invenções mentais, não havendo, assim, nem bem, nem mal no universo. Um dos principais defensores deste pensamento foi o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), para o qual " bem ou mal, noções imutáveis, não existem", já que o mal seria apenas a " afirmação da vida", que teria sempre sido negada e sufocada na sociedade humana, mormente pelos valores adotados pelo Cristianismo. Para quem, como Nietzsche, " Deus havia morrido", nada mais natural que entender que bem ou mal não existiriam e que se deveria buscar um sistema ético que estivesse " para além do bem e do mal", como diz o título de um de seus livros. Este pensamento (que, aliás, tem sido acolhido e entusiasticamente defendido por alguns nos nossos dias) não resolve o problema, mas, antes, representa uma fuga dele, já que, sendo ou não "afirmação da vida", o fato é que o mal existe e precisamos dar conta de sua origem.

Alguns outros, embora não tenham chegado à afirmação de que Deus não existe, assumiram uma posição muito similar, preferindo dizer que o mundo não é uma ordem, mas fruto do acaso e da probabilidade, de forma que o bem e o mal são resultados acidentais do anárquico movimento das forças cósmicas. Um pensamento desta natureza, denominado pelos estudiosos de "tiquismo" (do grego "tyche", chance, aposta) , não deixa de ser uma variante da corrente de pensamento atéia, porquanto, ao se negar a existência de uma ordem no mundo, está-se, em outras palavras, negando-se a existência de Deus, ou, pelo menos, dizendo-se que Deus não é onipotente, já que não é capaz de estabelecer uma ordem na criação. Há aqueles, ainda que, embora não questionem a existência de Deus, entendem ser impossível dizer se Ele é bom ou não. Indignado e revoltado com o terremoto que destruiu Lisboa em 1º de novembro de 1775, o filósofo francês Voltaire (1694-1778) preferiu afirmar que Deus era um ser existente mas absolutamente indiferente diante de tudo, de forma que não se poderia afirmar se Deus era bom ou mau, de tal maneira que o problema do mal deveria ser considerado uma questão insolúvel e que deveria ser deixada de lado. Tal postura não deixa, também, de ser uma fuga do problema e que, como já dissera Epicuro, não consegue explicar como admitir-se a existência de um Deus que não seja o Sumo Bem. Do mesmo defeito é a posição que foi tomada pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), segundo o qual Deus não seria um ser benévolo, de forma que a existência do mal pode ser resultado até do próprio exercício da vontade divina, uma vez que Deus não estaria vinculado ao bem. Aqui, também, não explica o filósofo como pode haver um Deus que não seja bom.
                                  
IV -  As correntes de pensamento no tratamento do problema do mal: o monismo e as respostas monoteístas

Visto as respostas que foram dadas pelos pensadores que não se vinculam ao pensamento monoteísta, vejamos como o problema do mal foi enfrentado por parte dos pensadores que não negaram sua fé e procuraram, de uma forma racional, superar este intrincado problema. O primeiro teólogo cristão que buscou sistematizar a sua produção foi Orígenes de Alexandria (185-255), cujo conhecimento da filosofia grega permitiu-lhe construir uma obra em que buscava, ao mesmo tempo, explicar as Escrituras e defender a fé cristã das críticas duras que os filósofos começavam a fazer. Ao tratar do problema do mal, Orígenes tinha em mente, principalmente, combater os gnósticos e seu dualismo. Orígenes vê a solução do problema do mal no livre-arbítrio que Deus concedeu ao homem na criação. Empenha-se, portanto, em provar que o livre-arbítrio existe e foi criado por Deus, a fim de demonstrar que, diante da liberdade que foi dada tanto ao homem quanto aos seres angelicais, puderam estes seres distanciar-se ou aproximar-se de Deus. O mal, portanto, nada mais seria do que o abandono ou a perda da bondade: "…O mal é a privação ou ausência da bondade; é um não-ser, e como tal, é o oposto do ser e do bem. Na proporção em que o homem se aparta do bem, ele perde sua perfeição e cresce no mal." (apud Philotheus BOEHNER e Etienne GILSON. História da filosofia cristã, p.68)

Considerar o mal como um não-ser, apenas como um distanciamento operado pela vontade entre Deus e os seres criados dotados de livre-arbítrio será a primeira solução que se dará para o problema do mal, portanto. Esta solução resolve, a um só tempo, vários aspectos do problema do mal. Senão vejamos.
Quando dizemos que o mal é um não-ser, ou seja, algo que não existe, não mais precisamos explicar como Deus, que, por definição, é o Criador de todas as coisas, poderia ter criado, a um só tempo, criou o mal, pois o mal é algo que não existe e, portanto, não foi criado.
Quando dizemos que o mal é um não-ser, também não precisamos explicar como Deus, sendo um ser infinitamente bom, poderia ter criado o mal, o que O tornaria um ser contraditório. Como o mal não é, ou seja, não existe, não faz parte daquilo que não foi criado.

Por fim, quando dizemos que o mal é um não-ser, é apenas a perda ou abandono da bondade, conseguimos explicar como ele surgiu, apesar de Deus ser o Sumo Bem, bem como entendemos porque o bem, apesar da presença do mal, não deixa de ser soberano. Daí, ao explicarmos o problema do mal, também acabamos por compreender que haverá um tempo em que este distanciamento se desfará, em que haverá uma restauração universal, "quando Deus for tudo em todas as coisas, já não haverá lugar para o mal" (apud op.cit., p.74). Diante de tamanha força, a solução dada por Orígenes influenciará decididamente todos os pensadores que se seguirão na filosofia e teologia cristãs, com algumas nuanças.

Gregório de Nissa (335-394), ao tratar do tema do problema do mal, adota a postura de Orígenes, considerando o mal como um não-ser. Para este pensador, o pecado é a inexistência de algo que deveria existir, ou seja, o ser humano, criatura que é de Deus, deveria, ao receber o livre-arbítrio, decidir-se por obedecer a Deus, mas não o fez, de modo que o mal surge, exatamente, do fato de não existir uma decisão por Deus que deveria ter existido. O pecado, assim, diz Gregório, " não é nada de positivo, nada de criado por Deus, mas, sim, algo de privativo, uma carência, um verdadeiro nada." (op.cit., p.102).

Dionísio Pseudo-areopagita (séc. V ou VI) explicita, como ninguém, o pensamento de Orígenes: "… Donde se origina, então o mal, uma vez que é impossível negar-se-lhe a existência manifesta ?". O mal, enquanto tal, não tem ser; tampouco ocupa um lugar nas coisas onde existe. De forma que o mal não se encontra nem nos anjos, nem nos demônios; não está na alma, nem nos animais, nem na natureza, nem nos corpos; não se encontra nem mesmo na matéria.(…). Em suma, o mal é uma fraqueza e uma omissão do bem." (op.cit., p.119). Agostinho de Hipona (354-430), o grande sistematizador da filosofia e da teologia cristã dos três primeiros séculos e cuja influência se faz sentir até o presente no pensamento da Cristandade, também neste tema teria uma importância fundamental. Agostinho conta, em seu livro Confissões, onde narra toda a sua trajetória até sua conversão ao Cristianismo, que teve de enfrentar o problema do mal quando já estava às portas da conversão. Já tendo sido evangelizado por Ambrósio, bispo de Milão, Agostinho se debatia com o questionamento a respeito do mal: ".se todas as coisas foram criadas pela bondade divina, que as penetra da maneira acima descrita, elas devem ser boas em sua totalidade. E assim parece não haver lugar para o mal. Entretanto, é inegável a existência do mal físico e moral; o mal não pode ser um puro nada, visto ser objeto de temor e causa dos sofrimentos. Por outro lado, ele não pode ter a Deus por autor. Que é, pois, o mal ? " (Confissões, VII, 5,7 apud op. cit., p.145). Agostinho, porém, ao se debruçar sobre este questionamento, percebe que, na verdade, a resposta de Orígenes não poderia ser descartada. Agostinho percebe que o fato de haver sofrimentos e temor no mundo não é resultado do mal, mas, antes, do fato de que todas as coisas devem sua existência a Deus e que, portanto, o fato de haver imperfeições e de as coisas deixarem de existir é fruto desta situação, pois somente Deus não tem princípio nem fim. Agostinho, também, percebeu que todas as coisas que existem são boas, porque têm sua fonte em Deus e que, portanto, o mal não pode ser senão uma lacuna, um defeito, uma ausência de algo que deveria estar presente. Assim, Agostinho acaba por concordar com Orígenes e a enxergar que o temor e o sofrimento existentes no mundo não decorrem do mal, mas, antes, é conseqüência da imperfeição das criaturas. Deste modo, o posicionamento de Orígenes é confirmado pelo grande filósofo e teólogo, que, além do mais, lança por terra a objeção de que a solução seria contrária à evidência dos fatos e à realidade do sofrimento existente no mundo.

Depois de Agostinho, quem dissertará longamente sobre o tema será Tomás de Aquino (1224/1225-1274), o grande sistematizador da filosofia cristã na Idade Média, para quem "…a essência do mal consiste na deficiência de um determinado grau de perfeição e, por conseguinte, na privação de um determinado bem. De sorte que a mesma existência de seres transitórios implica a existência do mal.…" (apud op.cit., p.466). Assim, ainda que mantenha o posicionamento cristão já clássico e tradicional, de considerar o mal como um não-ser, o Tomás de Aquino vai mais além, ao afirmar que o mal chega, mesmo, a ser uma necessidade, na medida em que existem seres imperfeitos. Para o Aquinate, portanto, onde há imperfeição, há mal e, por ser o homem um ser imperfeito, a existência do mal é uma inevitabilidade. Tal entendimento é decorrência da influência do pensamento do filósofo e teólogo judeu espanhol Maimônides(1135-1204) sobre a obra de Tomás de Aquino. Maimônides, em seu livro " Guia dos Perplexos"  defendeu a tese de que o mal pode ser explicado ora pela limitação necessariamente inerente à criatura, ora pelas desordens provocadas pelas próprias criaturas no exercício da sua liberdade. Maimônides será o grande filósofo judeu da Idade Média e é a demonstração de que o problema do mal não apenas incomodou os cristãos, mas todos os monoteístas. Pensando desta maneira, Tomás de Aquino acaba por nos trazer a noção do "substrato positivo do mal".  Para o teólogo-filósofo oficial da Igreja Romana,embora o mal seja um não ser, o fato é que o mal tem um substrato, ou seja, para que possamos dizer o que é o mal, temos de dizer que ele não é uma substância, que ele não é algo que existe. 

Ora, se o mal só pode ser definido e conhecido através do ser, temos que a própria definição do bem exige que nós saibamos o que é o bem, ou seja, o mal é somente concebível a partir do bem, daí porque dizermos que o substrato do mal é o bem. Entretanto, diz Tomás de Aquino, o bem não é a causa do mal, é apenas concebível a partir da noção do mal, de forma que Deus não é nem pode ser a causa do mal, pois Deus só causa o ser e tudo o que é, como dizem as Escrituras, é bom (cfr. Gn.1:31). René Descartes (1596-1650), filósofo francês considerado como um dos iniciadores do racionalismo e um dos principais responsáveis pela superação da filosofia medieval, também enfrentou o problema do mal em sua obra. Para Descartes, o problema do mal estaria no fato de que a vontade do homem é livre e, como tal, como é da natureza das coisas finitas, como o homem, errarem, o erro advém naturalmente ao homem, de forma que daí exsurge o mal, que nada mais é que o erro. O erro, diz Descartes, implica em sofrimento e, por isso, teríamos a presença do sofrimento apesar de o erro ser, a rigor, um não-ser, vez que não proveniente de Deus, que é, por definição, perfeito e bom. Deste modo, mais uma vez, a exemplo do que fizera Agostinho, busca-se explicar porque, apesar de ser um nada, o mal consegue causar tantos males e sofrimentos neste mundo em que vivemos. Foi, precisamente, para fugir a esta crítica que sempre permeou a solução cristã para o problema do mal, qual seja, a constatação de que, embora seja um não-ser, o mal traz efeitos e conseqüências sentidas por todos os homens, o que não parece apropriado para algo que é dito não existir, que o filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) apresentou a sua tese do " melhor de todos os mundos possíveis".

Para Leibniz, somente Deus é perfeito e, portanto, todos os demais seres são imperfeitos. Desta imperfeição, surgem as circunstâncias adversas, que nada mais são que o mal, que é, como já dissera Tomás de Aquino, uma necessidade, já que o mal deve ser considerado como uma programação estabelecida por Deus. Com efeito, estas imperfeições existem exatamente para que sejam entendidas em toda a sua excelência as perfeições, ou seja, pelo contraste entre as adversidades, entre os males e os bens, pela comparação entre a existência e a falta de existência, é que compreenderemos o que é o bem e como devemos enaltecê-lo e reconhecer nele a perfeição divina. Por isso, o mal, numa perspectiva da própria criação, é um bem, na medida em que, somente através do mal é que poderemos vislumbrar o bem enquanto tal. Deste modo, o universo em que vivemos é o melhor de todos os mundos possíveis, uma vez que foi feito de tal maneira que possamos contemplar a perfeição divina. Dizer, portanto, que o sofrimento, que os efeitos causados pelo mal no mundo são uma demonstração de que o mal não é uma ilusão, como diz a solução monoteísta, não parece ser uma correta afirmação, pois são estes sofrimentos e conseqüências funestas que nos permitem perceber o que é o bem e, como tal, tomar consciência de que estamos no melhor dos mundos possíveis.

Para o teólogo norte-americano radicado no Brasil, R.N. Champlin, exatamente por não poder enfrentar a contento a objeção de que o mundo está repleto de sofrimento e de efeitos causados pelo mal, a solução que aqui estamos chamando de monoteísta, "…não pode explicar muitas de suas formas [do mal]; e nem as mentes não-filosóficas, ou mesmo filosóficas, se satisfazem inteiramente com esta explanação. Após exame, tudo se reduz a um ponto de vista ' simplório'  sobre a existência do mal(…) uma posição criada para aliviar Deus de haver criado ou de estar permitindo o mal(…). Eliminar a existência do mal deste mundo, mediante alguma explicação racionalizadora, não dá solução ao problema, mas tão-somente oculta cruamente o mesmo, não passando tudo de um truque filosófico." (R.N. CHAMPLIN. Problema do mal. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.408-9). Entretanto, esta crítica parece não levar em conta a postura de Leibniz e que, ao nosso ver, parece ter bem respondido a esta objeção. Dizer que o mundo está repleto de sofrimento e de efeitos causados pelo mal e que, por isso, não se pode acolher a idéia de que o mal seja uma ilusão, como bem argumentou Leibniz, é considerar que possa existir um mundo melhor do que este. É este, aliás, o argumento apresentado por Jaime Quintas em seu artigo "O problema do mal" , onde, textualmente, assim afirma o filósofo português: "… Quando afirmamos que a quantidade de mal existente no mundo é incompatível com a existência de Deus estamos a afirmar duas coisas simultaneamente: 1) Há demasiado mal no mundo; 2) É possível a existência de um mundo melhor. Caso 2 seja falsa, Deus, mesmo sendo omnipotente, terá criado o melhor dos mundos, pelo que o argumento do mal perde a sua força.…"
(O problema do mal. google.com/search?q=cache:hX8JJ1GR_awJcriticanarede.com/fil_mal.html Acesso em 16 out.2003).

Ora, como bem observou o filósofo Quintas, uma coisa é dizermos que entendemos, sob o nosso ponto-de-vista, que o mundo existente possa ser melhor; outra é a constatação de que sempre acharemos que o mundo onde estamos, que sempre será imperfeito, pode melhorar. Nas palavras de Quintas: "… a existência de um mundo considerado bom pelos seus habitantes é logicamente impossível, pelo que um mundo considerado mau pelos seus habitantes não se torna incompatível com Deus. O nosso mundo é considerado mau pelos seus habitantes; mas daí não se segue que é incompatível com Deus.…" (op.cit). Vemos, portanto, que a crítica apresentada à solução monoteísta não se sustenta, uma vez que não é pela simples impressão que se tenha do mundo que poderemos concluir que o mal seja algo existente e que desafie a própria existência de Deus tal como a concebe um monoteísta.

Mas não bastasse isso, também não deixamos de ter de considerar que cabe à filosofia tentar refletir sobre o problema do mal e, à luz da razão, explicá-lo de forma convincente e lógica e não trazer soluções para que o mal seja eliminado do mundo. A solução monoteísta, que tem suas raízes em Orígenes, dá bem conta das objeções apresentadas por Epicuro e que se apresentavam como desafiadoras para quem tinha uma fé monoteísta, como os judeus e, posteriormente, os cristãos e os muçulmanos.

À evidência que a explicação fornecida não elimina o mal nem suas conseqüências, até porque não é tarefa da filosofia esta eliminação. Desta maneira, exigir-se do filósofo ou do teólogo que seja dada uma solução a este problema, em termos concretos, é algo que não nos parece razoável. Ademais, se se fosse perguntar a qualquer destes pensadores qual seria a solução para o mal, certamente que apresentariam a sua fé, pois o mal só poderá ser solucionado, segundo este grupo de pensadores, se a pessoa aceitar, por fé, a crença que professam.

BIBLIOGRAFIA

AUSUBEL, Nathan. Conhecimento Judaico. Trad. de Eva Schechtman Jurkiewicz. In: A.
        KOOGAN (ed.). JUDAICA. Rio de Janeiro: Koogan, 1989. v.5 e 6. 915p.

BOEHNER, Philotheus e GILSON, Etienne. História da filosofia cristã: desde as origens
         até Nicolau de Cusa. 3.ed. Trad. de Raimundo Vier, O.F.M. Petrópolis: Vozes, 1985.
         582p.

CHAMPLIN, Russel N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos,
         2001, 6v.

JAPIASSU, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. Rio de
        Janeiro: Jorge Zahar, 1989. 265p.

QUINTAS, Jaime. O problema do mal. http://www.google.com/search?q= cache:hX8JJ1GR_awJ:www.criticanarede.com/fil_mal.html+problema+do+mal&hl=pt-BR&ie=UTF-8. Acesso em 16 out.2003.

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