O Pentecostalismo e a Emancipação das Mulheres

Em entrevista concedida a Revista IHU on-line a Dra. Cecília Loreto Mariz, socióloga[1], analisa o papel da mulher dentro do pentecostalismo brasileiro. Pensamos que suas observações em muito nos ajudam a compreender a realidade do nosso “pentecostalispo pau Brasil”, se é que o posso chamar assim; passamos, então, a reproduzir aqui parte da entrevista. Diz a Dra. Mariz:

A família de fato é central nas igrejas pentecostais, especialmente quando comparamos, no Brasil, o discurso religioso sobre o papel do homem e o machismo da cultura dominante. Ao se tornar pentecostal, o homem passa a perceber que deve ter maior compromisso com sua família, mulher e filhos, do que com seus colegas de trabalho, de bar e lazer.

Em termos do discurso oficial sobre o papel masculino e feminino e a relação de gênero, as igrejas pentecostais, inclusive neopentecostais, tendem, em linhas gerais, a adotar um modelo bastante similar entre si e ao modelo tradicional patriarcal. Afirmam que homens e mulheres desempenham papéis diferentes e complementares na unidade familiar (homem/provedor e mulher/cuidadora), cabendo ao primeiro exercer a liderança dessa unidade, ou seja, ser a “cabeça da família”. No entanto, chamam atenção de que a mulher deve obedecer, antes de tudo, a Deus, e sua submissão ao homem não pode jamais levá-la a infringir a lei de Deus. Da mesma forma, o homem não deve jamais esquecer sua submissão à lei de Deus. Essa ênfase na submissão a Deus faz com que essas igrejas levem os fiéis a romper, em parte, com o machismo tradicional, relativizando o modelo patriarcal da sociedade mais ampla na medida em que cobram dos homens um compromisso com Deus, com a mulher e filhos, e dão mais autonomia e espírito crítico às mulheres. Dessa forma, o discurso oficial das igrejas pentecostais tampouco difere daqueles da Igreja Católica e protestantes históricas. As diferenças surgem na diversidade da interpretação das lideranças específicas e dos fiéis e no grau de flexibilidade e possibilidade de adaptação desse modelo à vida cotidiana. Essa variação depende menos dos discursos oficiais de cada igreja do que do contexto social onde vivem fiéis e lideranças.

No entanto, observam-se diferenças do discurso oficial entre essas igrejas quanto ao papel masculino e feminino dentro da própria comunidade eclesial. As igrejas protestantes e pentecostais tendem, em geral, a ser mais abertas do que a Igreja Católica quanto à aceitação da liderança feminina. No catolicismo, apenas homens celibatários podem ser sacerdotes. Dessa forma, a Igreja Católica rejeita não apenas a mulher como líder, mas rejeita que o sacerdote compartilhe sua vida com uma mulher e viva dentro do que seria considerado na sociedade mais ampla o mundo feminino por excelência, a família.
Nota/Fonte
[1] Cecília Loreto Mariz possui graduação em Ciências Sociais, mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco, e doutorado em Sociology of Culture and Religion pela Boston University. Atualmente, é professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ.
Disponível em http://www.ihuonline.unisinos.br/

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