As Bem-Aventuranças no Novo Testamento 2/2
Por Caramuru A. Francisco
Em I Co.7 :40, o apóstolo
Paulo, quando trata da questão dos casamentos, diz que “mais bem-aventurado é o
viúvo que não se casa novamente”, conceito que o apóstolo diz ser seu, embora
dissesse que tinha o Espírito de Deus. Neste pensamento de Paulo está o fato de
ser uma bem-aventurança servir a Deus integralmente, o que não se pode fazer
quando se é casado, visto que é preciso servir ao cônjuge, o que diminui o
tempo do serviço a Deus.
Em I Tm.1 :11, a expressão
“bem-aventurado” é aplicada ao próprio Deus, a indicar que as
“bem-aventuranças” são atitudes que nos fazem expressar “a imagem e semelhança
de Deus”, a corroborar o ensino de Jesus no sermão das bem-aventuranças (veja
lição 6), ao mostrar que “bem-aventurados” são os Seus discípulos, aqueles que
são filhos de Deus.
Em I Tm.6 :15, o apóstolo,
novamente, chama de “bem-aventurado” ao Senhor Jesus, “o bem-aventurado e único
poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores”, a reafirmar que a
“bem-aventurança” nos torna “cristãos”, ou seja, “pequenos Cristos”, “parecidos
com Cristo”. Deste modo, quando vemos que os “teólogos da prosperidade” nos
afugentam destas bem-aventuranças, entendemos que eles querem impedir que nos
tornemos cristãos.
II – AS BEM-AVENTURANÇAS EM ATOS E NAS EPÍSTOLAS
Em Atos dos Apóstolos, só temos
uma ocorrência de “bem-aventurança”, a saber, em At.20:35, quando em seu
discurso aos crentes de Éfeso, o apóstolo Paulo recorda palavras do Senhor
Jesus que não foram registrados em qualquer dos evangelhos, onde o Senhor
ensinou que “mais bem-aventurada
coisa é dar do que receber”.
Nesta bem-aventurança mencionada
pelo Senhor Jesus e que o Espírito Santo mandou que Lucas registrasse neste
ensino de Paulo aos efésios em Mileto, temos a negação de tudo quanto se vê na
“teologia da prosperidade”. O importante não é “receber”, mas, sim, “dar”. Quem
dá é bem-aventurado. Quem dá e não retém mostra sua semelhança com o Senhor,
que Se deu a si mesmo por nós. Por que, então, diante de tão belo ensino do
próprio Cristo, aceitarmos a mentira do “receba, receba” destes falsos
ensinadores? Na epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo fala de
“bem-aventuranças” quando trata da justificação pela fé de Abraão, fazendo
alusão às bem-aventuranças do Sl.32:1,2 (mencionadas em Rm.4:7,8), que explica
dizendo que “bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras”
(Rm.4:6), lembrando, ainda, que esta bem-aventurança se deu na incircuncisão
(Rm.4:9).
Esta bem-aventurança do Antigo
Testamento que é repetida e explicada pelo apóstolo é, também, uma contundente
refutação da “teologia da prosperidade”. Com efeito, os “teólogos da prosperidade”
com sua falsa “lei da reciprocidade”, fazem a justiça e a salvação depender das
obras, o que é totalmente negado pelo texto bíblico em análise. Não podemos
prevalecer espiritualmente pelas nossas obras, precisamente para que não nos
gloriemos (Ef.2:9).
Lamentavelmente, como foi muito
bem afirmado pelo padre católico romano Paulo Ricardo de Azevedo Júnior
(Teologia da prosperidade? Disponível em: http://padrepauloricardo.org/audio/49-a-resposta-catolica-teologia-da-prosperidade/
Acesso em 22 dez. 2011), os “teólogos da prosperidade”, estes falsos
ensinadores conseguiram perverter a própria razão de ser da Reforma
Protestante, pois, assim como os pregadores de indulgência nos dias de Lutero,
defendem que se pode “comprar Deus com dinheiro”. O ensino de Paulo em Romanos
mostra que a bem-aventurança está na “justiça sem as obras”, que é imputada
pelo Senhor a todos quantos creem em Cristo Jesus.
Ainda em Romanos, o apóstolo
Paulo nos indica uma outra bem-aventurança, em Rm.14:22, quando afirma que é “bem-aventurado
aquele que não condena a si mesmo naquilo que aprova”.
Esta bem-aventurança está
vinculada com a questão da liberdade e da caridade, quando o apóstolo nos
ensina que não podemos escandalizar os outros irmãos, que não podemos fazer com
que os irmãos venham a cair da fé por causa da nossa conduta, ainda que ela
seja conforme a Palavra de Deus.
Paulo diz que o crente que se
privar de fazer coisas que não são condenadas pela Palavra de Deus apenas com o
propósito de não fazer o seu irmão, mais fraco na fé, se escandalizar e cair da
fé, é bem-aventurado, pois, embora tenha fé e saiba que o que fizesse não seria
pecado, tem o amor suficiente para manter a sua fé intimamente e não dar motivo
para levar um irmão à perdição e, por causa disso, condenar a si mesmo naquilo
que aprova.
Nesta bem-aventurança notamos,
claramente, que temos, uma vez mais, algo diametralmente oposto ao que é
ensinado pelos “teólogos da prosperidade”, que não pensam no próximo, nem
tampouco no “fraco na fé”, mas que defendem um evangelho egoístico e
individualista. Aliás, quantos exemplos temos de pessoas que, após não
receberem as “bênçãos” depois de terem feito seus “sacrifícios”, são lançados
em rosto por estes falsos ensinadores como “pessoas de pouca fé”, numa
insensibilidade que somente perde para a ganância destes ditos cujos. Fujamos
disto, amados irmãos!
Apesar de ser um conceito pessoal
do apóstolo, o fato é que está registrado nas Escrituras, motivo por que temos
de reconhecer que se trata de um texto que tem
autoridade de Palavra de Deus. O apóstolo, porém, não disse que era
proibido casar, nem que o serviço a Deus exige o celibato, mas apenas disse que
a dedicação integral ao serviço do Senhor após a ocorrência de uma viuvez é uma
bem-aventurança.
Em Gl.4:15, o apóstolo Paulo diz
aos gálatas que o fato de o terem recebido como um anjo de Deus, como Jesus
Cristo mesmo, era uma bem-aventurança, pois aqueles crentes estavam dispostos a
arrancar os seus olhos e lhos darem. Vemos, pois, que se trata de uma bem-aventurança o acolhimento dos servos do Senhor, o
seu amparo e sustento quando estão a realizar a obra de Deus.
Mais uma vez temos a presença de
uma bem-aventurança vinculada ao serviço ao próximo, à dedicação ao próximo,
algo bem diverso, contrário mesmo à ganância individualista propalada pela
“teologia da prosperidade”.
Em Tt.2:13, o apóstolo Paulo
chama de “bem-aventurada” a esperança que tem o salvo da volta de Jesus, texto
que corrobora o ensino do próprio Jesus que disse que aguardar a Sua vinda, ser
vigilante é ser bem-aventurado. Ao revés, em I Co.15 :19, o apóstolo chama de “os mais
miseráveis de todos os homens” os que esperam Jesus somente nesta vida, que é,
precisamente, a situação dos que adotam a “teologia da prosperidade”. Qual é a
sua situação, amado(a) irmão(ã)?
A epístola de Tiago, apesar de
breve, tem três referências sobre bem-aventuranças. A primeira delas, em Tg.1:12, diz que “bem-aventurado o varão
que sofre a tentação; porque, quando provado, receberá a coroa da vida, a qual
o Senhor tem prometido aos que O amam”.
Esta bem-aventurança mostra,
claramente, que, ao invés do “pare de sofrer” dos “teólogos da prosperidade”, o
Senhor não só diz que os crentes sofrerão nesta vida, como também que, se
suportarem as provas, receberão a coroa da vida como recompensa, galardão este
que não é desta vida, mas na vida do além. Como isto é totalmente diferente do
que falam estes falsos ensinadores…
Em Tg.1:25, temos a segunda
bem-aventurança desta epístola, qual seja, a “bem-aventurança do cumpridor da
Palavra de Deus”. O irmão do Senhor diz que quem atenta bem para a lei perfeita
da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido mas fazedor da
obra, é bem-aventurado no seu feito.
Tiago, ao aludir a esta
bem-aventurança, faz coro a textos do Antigo Testamento que confirmam que quem
guarda e pratica as Escrituras é bem-aventurado. Não podemos, para alcançar a
felicidade eterna, fugir do que estatui a Bíblia Sagrada, nossa única regra de
fé e prática.
Os “teólogos da prosperidade”,
contudo, arvoram-se em “visões”, “revelações” e “deduções” completamente
alheias às Escrituras, com as quais Deus não tem qualquer compromisso e, por
causa disso, desencaminham milhões de vida. Não os ouçamos, mas demos ouvidos
ao Senhor e, em fazendo o que Ele manda, seremos bem-aventurados!
A terceira bem-aventurança de
Tiago está em Tg.5:11, onde, praticamente, temos uma repetição da primeira
bem-aventurança, pois o irmão do Senhor diz que “eis que temos por bem-aventurados
os que sofreram”. Mais uma vez, é mostrado que o sofrimento é uma
bem-aventurança. Se, na primeira bem-aventurança, está enfatizado o fato de que
suportar a prova é fonte de felicidade, aqui se tem que o sofrimento em si
mesmo já é uma bem-aventurança.
Para confirmar isto, Tiago traz o
exemplo de Jó e confirma que a paciência deste patriarca foi fundamental para
que a misericórdia e piedade divinas mudasse a situação daquele homem. Esta
bem-aventurança é outra refutação dos falsos ensinos da “teologia da
prosperidade”, visto que Jó sofreu sem ter pecado e aceitou o sofrimento
humildemente e reside aí a sua bem-aventurança, diz-nos o irmão do Senhor.
Enquanto isso, os “teólogos da prosperidade” ficam a ensinar o povo a “não
aceitar” as provações, as dificuldades…
O apóstolo Pedro corrobora este
pensamento pois, em sua primeira carta, traz-nos bem-aventurança bem similar.
Diz o apóstolo que “se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados” (I
Pe.3:14a). O apóstolo aqui nada mais, nada menos que repete uma das
bem-aventuranças do sermão de Cristo, ao dizer que são bem-aventurados aqueles
que forem ofendidos por causa da justiça, por causa do Senhor Jesus.
Ainda se referindo a este ponto,
o apóstolo, em I Pe.4 :14,
diz mais, a saber: “Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados
sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus”. Ser vituperado,
i.e., desprezado, insultado, aviltado por causa do nome de Cristo é uma
bem-aventurança, como o apóstolo uma vez mais lembra, repetindo as palavras do
Senhor Jesus seja no sermão do monte (Mt.5:11,12), seja no sermão da planície
(Lc.6:22).
Como, pois, insistem os “teólogos
da prosperidade” numa falsa ideia de que o evangelho nos leva a um mundo de
“sombra e água fresca”, de uma suposta “imunidade contra doenças, problemas e
sofrimentos”?
Ao propagandear este “mar de
rosas”, os “teólogos da prosperidade” estão a querer transformar seus
seguidores em “falsos profetas”, pois é àqueles que o mundo aplaude e diz bem,
como nos ensina o próprio Jesus em Lc.6:26.
Como podemos observar, pois, em
momento algum, ao longo desta análise, temos qualquer bem-aventurança vinculada
à posse de bens materiais ou a uma vida regalada nesta Terra. Por isso, em toda
a Bíblia, vemos que não tem respaldo algum este ensino falso e que tanto mal
tem causado aos crentes. Fiquemos com a Palavra de Deus, amados irmãos!
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