Liderança Cristã e Comunicação

Por Francikley Vito 


A liderança cristã tem sido apreciada, em anos recentes, graças a homens como John R. Mott (1865-1955). Alguns estudiosos chegam a considerar que Mott era o líder cristão mais respeitado mundialmente em seu tempo. No ano de 1946 o trabalho de John Mott foi coroado com o Prêmio Nobel da Paz, como reconhecimento por seus esforços. Cristão metodista, Mott dizia que um “líder é o homem que conhece o caminho e sabe manter-se à frente, trazendo outros após si”. Quando consideramos as palavras do líder americano, percebemos que não é qualquer pessoa que pode ser chamada de líder, pois um verdadeiro líder é aquele que traz as pessoas “após si” para que essas pessoas, e ele mesmo, possam alcançar determinado objetivo. Sendo assim, não se pode elevar qualquer pessoa a uma posição de liderança; pois, se o fizermos, corremos o risco de não chegarmos a objetivo algum. Um líder que não sabe para onde está indo e nem como chegar a determinado lugar, pode ser tido como um condutor cego (Mt 15.14).

Para ser um líder que recebe, em seu ministério, o reconhecimento do povo, o respeito da Igreja e a aprovação de Deus, o indivíduo precisa, em sua caminhada, cultivar algumas características indispensáveis para seu crescimento pessoas e para ser bem quisto daqueles que estão com ele, a saber: Compromisso, com Deus e com Sua Palavra; autodomínio, ser senhor de suas emoções; caráter, agir na presença de outrem como se estivesse na presença do próprio Deus; amabilidade, demonstrar amor e respeito aos seus liderados, ete. Existe, contudo, uma característica que é absolutamente indispensável para aquele que quer se desenvolver como um grande líder, sendo ele cristão ou não, ou seja: A boa comunicação. Não há como liderar sem ter uma boa comunicação; assim como não há como determinar o que é possível fazer quando se conhece o poder de uma comunicação eficaz. Pelo uso da retórica, homens sem o mínimo de caráter se tornaram grandes vultos na história; pelo discurso, reinos foram destruídos sem necessidade de espadas ou quaisquer outras armas e pela eficácia da comunicação, guerras foram declaradas baseadas em ameaças que nunca foram comprovadas. Pela boa comunicação uns se tornam condutores, outros são conduzidos.

A capacidade que todo ser humano tem de se comunicar com o seu semelhante é um dom, um presente, que deve ser recebido e aperfeiçoado no percurso do exercício da liderança. Pela comunicação as pessoas compartilham suas experiências, sentimentos, pensamentos e, principalmente, suas crenças; “sem a comunicação cada pessoa seria um mundo em si mesmo” (Bordenave, O que é comunicação, p.36). Se considerarmos que só é possível melhorar o que se conhece, cabe a nós saber o que é comunicação e como ela pode ajudar no exercício de uma boa liderança, em especial a liderança cristã.

Se usarmos um bom dicionário de língua portuguesa, veremos que são inúmeras as definições possíveis para o substantivo comunicação em seus vários usos; desde “o ato de comunicar” até um “processo que envolve a transmissão e a recepção de mensagens entre uma fonte emissora e um destinatário receptor, no qual as informações, transmitidas por intermédio de recursos físicos (fala, audição, visão etc.) ou de aparelhos e dispositivos técnicos, são codificadas na fonte e decodificadas no destino com o uso de sistemas convencionados de signos ou símbolos sonoros, escritos, iconográficos, gestuais etc.” (Houaiss, 2011). Para aquilo que nos propomos a mostrar, entendemos que a melhor definição para comunicação é aquela que vem do étimo da palavra em latim (communicatìo,ónis), isto é,  “tornar comum, partilhar”. Portanto, comunicação é o ato de tornar conhecido, ou comum, ao outro aquilo que alguém sabia, ou aquilo que só era crido (conhecido) por um número reduzido de pessoas. É partilhar suas crenças e valores com alguém que não as tinha ou não queria tê-las. É fazer com que outros acreditem naquilo que é realidade para um. Daí o porquê diz os escritos cristãos que “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). É pela comunicação que aprendemos hábitos, valores e crenças. Essa é a razão pela qual a mensagem que os cristãos pregavam foi comumente chamada, em anos posteriores, de evangelho, cujo significado é boa notícia.

O líder que pretende ser reconhecido como tal, precisa entender que a comunicação é um instrumento para modificar os significados que cada pessoa atribui a determinada coisa, crença ou comportamento. O homem é um ser social e, para melhor conviver no meio em que vive, ele precisa se comunicar com o seu semelhante; sem essa comunicação não haveria aprendizado e, consequentemente, não haveria crescimento. O líder deve se esforçar para melhor se comunicar; honrando, assim, a si mesmo e aqueles que são seus liderados. Como bem disse o escritor cristão Dennis F. Kinlaw: “O chamado que nós, os pregadores, recebemos não é o de trabalhar para Deus, mas trabalhar com Deus” (Pregação no Espírito, p. 38). Essa verdade de que o cristão trabalha com Deus, deve ser aplicada não só a pregadores, mas a todos os cristãos e, principalmente, àqueles que desempenham o ato de liderança cristã. O líder deve ser, em todas as coisas, exemplo para os seus liderados, inclusive no modo como se comunica, como fala (Tt 2.8). Portanto, aperfeiçoar a sua liderança depende em grande medida do aperfeiçoamento da sua comunicação, do seu falar. Comunicar-se melhor é falar melhor. Isso, porém, não é o mesmo que falar muito; falar melhor é saber o que se fala e quando se deve falar. Todos tem a dádiva da comunicação, mas são poucos os que sabem usar desse dom de maneira clara e eficiente. A boa liderança depende da boa comunicação, sem a segunda não haverá a primeira. 

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