Os Dízimos e as Ofertas na Bíblia (Parte 2)
Por Caramuru A. Francisco
Mas, dizem os adversários do dízimo, que não há qualquer
passagem bíblica do Novo Testamento que mostre que os discípulos ou os
cristãos, em geral, estivessem dizimando. Dizem eles que há somente registro de
coletas, de ofertas alçadas, citando, à saciedade, exemplos vários extraídos
não só de Atos dos Apóstolos mas das epístolas paulinas. Assim, dizem estes, o
dízimo teria sido abolido por Jesus, pela graça e agora persistiriam apenas as
ofertas alçadas ou coletas.
Tal entendimento, porém, não se sustenta. Em primeiro lugar,
o dízimo, como vimos, não poderia ter sido abolido pela graça se o
próprio Jesus disse que não deveria ser omitido pelos Seus servos. Em segundo
lugar, o dízimo somente poderia ser abolido pela graça se tivesse sido uma
criação da lei, assim como o sábado, cuja instituição se deve aos dez
mandamentos recebidos no Sinai e como sinal entre Deus e Israel. Todavia, como
já observamos antes, o dízimo já era uma instituição conhecida e praticada por
vários povos antes mesmo da formação da nação israelita.
Em terceiro lugar, um pensamento desta natureza decorre do
fato de se achar que dízimos e ofertas alçadas são conceitos diversos,
diferentes, opostos até. Assim, dízimo seria uma espécie de contribuição, ou
seja, a obrigatória porção de um décimo do que se ganha, enquanto que oferta
alçada seria uma contribuição voluntária, independente e algo além dos dez por
cento. Este conceito, entretanto, não tem, também, respaldo bíblico.
Quando vemos a instituição do dízimo na lei de Moisés,
percebemos que os dízimos eram entregues em forma de oferta alçada (Nm.18:24).
Oferta alçada (que a versão NVI e outras versões bíblicas traduzem por
"contribuição") é um gênero que abrange os dízimos e outras
contribuições feitas para o sustento dos sacerdotes. Aliás, os rabinos judeus
identificam na lei vinte e duas formas diferentes de contribuição para o
sustento dos sacerdotes e levitas, dentre as quais se encontra o dízimo. Assim,
quando a Bíblia fala em ofertas alçadas na igreja, não está excluindo os
dízimos, pois os dízimos são espécies de ofertas alçadas, cuja característica é
a voluntariedade (Ex.25:2,3; 35:5,21,22,24,29;36:3).
Em quarto lugar, diz-se que o dízimo seria uma contribuição
obrigatória e que, na dispensação da graça, já não vivemos mais a
obrigatoriedade, não estamos debaixo do legalismo, mas tudo se faz
voluntariamente e por amor. O dízimo, entretanto, como já vimos, não é uma
obrigação, mas, tanto quanto as demais contribuições, uma contribuição
voluntária, resultado de uma vida de amor a Deus, um ato de gratidão e de
reconhecimento da soberania divina.
O dízimo é entregue por quem, voluntariamente e com alegria,
crê em Deus e reconhece que Ele é Senhor. Não se trata de obrigação alguma,
mas, antes, é um gesto de desprendimento, de compromisso para com a obra de
Deus. Quem dizima, fixa em, pelo menos, dez por cento o valor com que deve
contribuir para a obra de Deus, reconhecendo plenamente o senhorio de Deus sobre
a sua vida. Quem não dizima, ainda que contribua, se ficar aquém do valor
mínimo com que contribuíram os homens de Deus no passado, como pode dizer que
está debaixo da graça de Deus, graça esta que, agora, se revelou plenamente na
pessoa de Jesus Cristo? Poderia um servo de Deus na dispensação mais ampla da
história da humanidade estar contribuindo menos para a obra de Deus do que os
homens das antigas alianças?
O dízimo é o primeiro gesto de administração de bens de um
cristão fiel, pois, como vimos, é algo que deve ser prioritário, tanto na
quantidade quanto na qualidade. O dízimo deve corresponder a dez por cento do
ganho do cristão, entendido este como o ganho bruto e não o líquido, como
alguns têm defendido. Com efeito, quando declaramos nossa renda ao Governo,
declaramos que recebemos aquilo que efetivamente ganhamos, que é o bruto e não
o líquido. Ora, se para o Governo, dizemos que nossa renda é nosso ganho bruto,
por que o cálculo do dízimo se faria sobre o líquido?
O dízimo deve ser entregue na igreja local da qual fazemos
parte. Não se trata de dinheiro que tenha outra finalidade senão a de dar o
sustento para as pessoas que estão envolvidas integralmente com a obra do
Senhor. A obra do Senhor é feita por intermédio da igreja local, que é a
agência do reino de Deus aqui na terra. Se somos membros de uma igreja local,
ali devemos entregar nossos dízimos, pois é ali que cultuamos a Deus. A Bíblia
não estabelece outro lugar senão este para entregarmos os dízimos. Entre os
judeus, os dízimos deveriam ser levados a Jerusalém, para o templo, e apenas se
permitia que, diante do fato de ser custoso o transporte dos bens até lá, se
pudesse convertê-los em dinheiro ou levá-los a cada três anos ao templo,
devendo ficar armazenados enquanto não se completasse o período.
Não se constitui em dízimo, portanto, a contribuição que se
dê a este título para obras assistenciais, para outras igrejas locais às quais
não pertencemos, para sustento de obreiros ou quaisquer outras pessoas que
estejam "vivendo da obra". Tais contribuições são ofertas, são
contribuições, mas não são dízimo. Não temos o direito, como mordomo, de darmos
destinação diversa aos dízimos senão a que foi estabelecida pelo Senhor. Se
somos mordomos, somos servos e, portanto, devemos tão somente obedecer ao
Senhor e isto implica em não termos o poder de dizermos para onde vai o dízimo,
pois ele não é nosso, mas, sim, do Senhor.
Constitui-se, também, em atitude que não tem qualquer
respaldo bíblico o uso do dízimo como forma de pressão ou retaliação junto ao
ministério da igreja local onde servimos a Deus. Muitas pessoas acham que, por
entregarem fartos dízimos, que representam boa parte da arrecadação da igreja
local, têm o direito de opinar ou de estabelecer as diretrizes para o
ministério da igreja local. Na verdade, há, mesmo, ministros do Evangelho que
dão satisfações ou procuram agradar um determinado grupo na igreja local por
causa do papel que eles representam no sustento seu e da obra do Senhor.
Todas estas atitudes são amplamente reprovadas pelas
Escrituras, que não admitem a acepção de pessoas e tratam aos que assim
procedem como pecadores (Tg.2:1-9). Os dons divinos não se adquirem nem se
exercem por dinheiro (At.8:18-23). Na igreja, cuidamos de vidas, de almas e não
de cifrões ou de quantias. O dinheiro é necessário, no mundo em que vivemos,
para que a obra de Deus se possa realizar, não porque Deus disto precise para
cumprir o Seu propósito, mas para o próprio aperfeiçoamento dos santos, para o
crescimento espiritual dos crentes e, sobretudo, para a glória de Deus.
Texto completo em: www.portalebd.org.br
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