O Ministério Apostólico 9/10

Por Caramuru A. Francisco

Paulo, quando quis provar sua condição de apóstolo, não invocou qualquer domínio sobre a fé dos coríntios. Pelo contrário, logo no limiar da defesa de seu apostolado, quis deixar claro que não tinha domínio sobre a fé daqueles crentes, porque era cooperador do gozo deles, porque eles se mantinham em pé pela fé e não por causa da suposta autoridade do apóstolo (II Co.1:24).
OBS: Podemos até dizer que os versos do conhecido bolero de José Feliciano, “Sabor a mí” trazem o verdadeiro espírito do apostolado pelos verdadeiros, genuínos e autênticos apóstolos, a saber: “No pretendo ser tu dueño, no soy nada yo no tengo vanidad. De mi vida doy lo bueno, soy tan pobre, que otra cosa puedo dar” (tradução nossa: não pretendo ser seu dono, não sou nada, não tenho vaidade. Deu o melhor da minha vida, sou tão pobre, que outra coisa poderia dar?” Ah, se os “apóstolos do século XXI” pensassem assim…

Vemos, pois, que a referida “autoridade apostólica”, em momento algum, pode ser considerada uma “intermediação” entre Cristo e os membros da igreja, como tem sido ensinado pela falsa doutrina da “cobertura apostólica”, que nada mais é que mais uma evidência de que muitos dos “apóstolos do século XXI” nada mais são que “falsos cristos”, pessoas que assumem indevidamente para si um papel que cumpre única e exclusivamente a Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, qual seja, o de ser o mediador entre Deus e os homens (I Tm.3:5).
OBS: É interessante notar que mesmo o Papa, que se diz “Vigário de Cristo”, não toma a liberdade de se chamar “apóstolo”, mas tão somente “sucessor do príncipe dos apóstolos” (aliás, “Papa” significa “Pedro Apóstolo Príncipe dos Apóstolos”). Assim, embora também seja um “falso cristo”, é menos atrevido que estes “apóstolos pós-modernos”…

Outro ponto que se costuma associar à ideia da “autoridade apostólica” é a “paternidade espiritual”, considerada como uma dependência e uma relação de obediência que deve existir entre os crentes e os “apóstolos”. Aqui também, vemos que este conceito é despido de qualquer amparo bíblico, tanto que, na sua própria defesa do apostolado, Paulo mostra que a “paternidade espiritual” é, antes de mais nada, um dever do que um poder. Diz o apóstolo: “…não busco o que é vosso, mas sim a vós; porque não devem os filhos entesourar para os pais mas os pais para os filhos. Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (II Co.12:14,15).

Ser “pai espiritual”, portanto, não é ter a obediência dos “filhos” e fazer com que eles o sustentem. Não, não e não! Ser “pai espiritual” é ter a consciência de que deve levar a “herança do Senhor”, que são os filhos na fé, a se apresentar como “virgem pura a um marido, a saber, a Cristo” (II Co.11:2) e que, por isso, deve empreender todos os esforços para que estes filhos não venham a se perder, ainda que eles não reconheçam este amor e dedicação. Afinal de contas, é o pai espiritual quem deve levar o tesouro, que é o Evangelho (II Co.4:4-6), a estes filhos e não os filhos quem devem trazer seus bens para enriquecer os pais espirituais.
Quão diferente é o conceito bíblico de “paternidade espiritual” do que andam ensinando por aí, que nada mais é que indevida submissão do crente a um homem, o que Paulo disse não ser mais admissível para quem é salvo em Cristo Jesus (I Co.7:23). “Pai espiritual” não é quem escraviza homens com suas “fórmulas de fé”, “visões”, “revelações”, mas, sim, quem leva Cristo Jesus aos homens, nada querendo em troca.

A autoridade apostólica advinha do bom testemunho dado pelos doze, pela presença do poder de Deus através de suas vidas, pelo grande amor que devotavam aos demais crentes, pela responsabilidade e compromisso que tinham para com a mensagem do Evangelho e a edificação dos crentes. Como disse Paulo, os apóstolos tinham consciência de que Deus os havia posto como os últimos, como condenados à morte, como espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens. Pessoas que não se importavam de sofrer fome, sede, nudez, ferimentos e falta de residência fixa; pessoas que não se importavam de serem considerados o lixo deste mundo e a escória de todos (I Co.4:11-13).

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