Se o Profeta Não for Independente sua Profecia se Cala!

Por Nelson Gervoni

Um olhar sobre o profetismo do Antigo Testamento, mesmo que não tão exegético, nos mostrará que havia uma relação entre os profetas de Israel e a liderança deste Estado. Mostrará que os profetas se envolviam nos assuntos políticos e sociais, tanto quanto nos assuntos religiosos, pois viam uma profunda relação entre eles. Mostrará ainda que esta era uma relação de conflitos, confrontos e quase nenhum conforto.

Para citar apenas alguns personagens do profetismo israelita, coube a Samuel um importante papel no início da realeza de Israel, enquanto Elias e Eliseu confrontaram o poder de Samaria e Damasco, e Isaias interferiu nos negócios públicos do Estado e denunciou a corrupção de Judá. Já Amós, que parece ser um símbolo da postura denunciativa profética, foi impiedoso em suas críticas a Jeroboão II, tornando-se o porta-voz de um Deus irado contra os poderosos de sua época.

Entretanto, os profetas de Israel não foram os primeiros a adotarem esta postura em relação ao poder. Arquivos reais de Mari, cidade das margens do médio Eufrates, mostram que profetas agiram como eles na realeza de Mari, aproximadamente mil anos antes. O profetismo em Mari "...punha o rei em guarda contra algumas negligências rituais em relação aos deuses ou contra sua teimosia em não aceitar suas advertências; opunha-se ao projeto da construção de uma porta fortificada ou anunciava ao rei o malogro de uma iniciativa militar..." (in AMSLER, S. Os profetas e os livros proféticos, Paulinas).

Esta relação entre o profetismo e o poder era garantida, entre outras coisas, pela independência nutrida pelos profetas e relação ao Estado. Podemos pensar em pelo menos três tipos de independências necessárias ao profeta, que lhe asseguram o uso do instrumental profético de forma legítima: independência temática, independência do objetivo e independência econômica.
A postura profética histórica nos propõe uma interessante e oportuna reflexão sobre o nosso papel como profetas da atualidade, quer sejamos pastores, padres, teólogos, igreja ou entidades paraeclesiais. Aponta para uma revisão da relação entre profecia e sociedade e poder na pós-modernidade. Faz-nos concluir que a independência das subvenções do poder garante ao profeta a legitimidade necessária não somente para profetizar a denúncia, como também avalizar, quando necessário, os atos governamentais. O aval profético em situações em que o poder aja de acordo com interesses da justiça e da ética só tem valor se o profeta for independente. Se não houver independência, o profeta cala a denúncia ou vê o seu aval interpretado como mera retribuição de quem recebe subvenção.

Como mulheres e homens de Deus na atual conjuntura, somos convocados à rejeição das diferentes formas de "subvenções" oferecidas pelos poderes: - a "subvenção" das idéias, desenvolvendo uma temática diferente da desenvolvida pelos governos; - a "subvenção" das diretrizes, elaborando a nossa própria pauta de objetivos;- e a subvenção (esta sem aspas) financeira, buscando alternativas de sustento que não nos calem a Palavra, nem coloque em nossos lábios outra palavra que não seja de Deus.

Fonte
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=50980

Comentários

  1. Francikley Parabéns pelo blog. Voce é muito autêntico em seus textos. Que Deus continue te usando e te abençoando. Abraço.

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  2. A Paz de Cristo, Alvalea.
    Obrigado por nos visitar. Porém, se você estive se referindo ao texto "Se o Profeta não For Independente Sua Profecia se Cala", quero esclarecer que ele não é meu; o nome do autor está indicado no começo do artigo. Um araço.

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