De Olho no Voto: Igreja, Política e Descontentamento

Por Francikley Vito

Há muito venho acompanhando o debate político neste ano eleitoral; e para minha total surpresa o lugar que a igreja “ganhou” nestas eleições foi inesperadamente mudado. Isso aconteceu depois que a candidata que, segundo as pesquisas, ganharia no primeiro turno teve seus planos abortados (sem duplo sentido) por uma “imprevisível força”, o voto evangélico. Tal mudança trouxe para o debate eleitoral, figuras e assuntos que antes eram pouco considerados ou simplesmente negados. Tamanha visibilidade assustou a alguns e desagradou a outros.

A igreja que até bem pouco tempo era totalmente contrária à política e a qualquer manifestação direta à qualquer candidato, colocou-se nos últimos dias em verdadeira “batalha campal”. Tais manifestações fez com que os ânimos se alterassem em vários setores da sociedade religiosa; seja ele evangélico, tradicional ou católico.

A Folha de São Paulo publicou como título de matéria que a “Campanha de Serra Faz Ofertas a Evangélicos” deixando subtendido que o “apoio” evangélico é barganha eleitoral. Diz a nota: “A campanha de José Serra (PSDB) está oferecendo benefícios a igrejas evangélicas e a entidades a elas ligadas em troca de apoio de pastores à candidatura tucana. O mesmo foi feito na campanha do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin.” E reforça dizendo que “Segundo Cantóia [cordenador da campanha Serra para os evangélicos], entre os argumentos para conquistar o engajamento dos evangélicos, além do discurso relativo a valores, como a posição contrária à descriminalização do aborto, está a promessa de apoio a parcerias entre essas igrejas e entidades assistenciais a elas vinculadas com prefeituras e governo, em caso de vitória tucana.” [1]

Diante dos fatos, o escritor cristão Julio Severo chega a perguntar “Onde fica o Reino de Deus na disputa entre PT e PSDB?” E dispara: “esta eleição não representa alegria [...] é uma eleição de dor e sofrimento”. Depois de tomar uma decisão extremada em relação ao seu voto diz que “diante do mal, o Reino de Deus e seus valores são inegociáveis, mas muitos membros importantes da Frente Parlamentar Evangélica estão se vendendo em troca de propostas indecorosamente altas. O PT está conseguindo comprar a consciência de parlamentares evangélicos que até recentemente viam e avisavam sobre as ameaças dos projetos do PT. Agora, sob o peso das tentações terrenas, eles se calam para a verdade e só desentopem a boca para elogiar os bons pagadores.”[2]

Como disse, essas discussões sobre o apoio ou não de liderança religiosa a candidatos não é uma exclusividade nossa; o mais novo cardeal do Brasil, d. Raymundo Damasceno Assis, de 73 anos, também entrou na debate dizendo que “Cabe à Igreja dar critérios para ajudar os fiéis a escolher com responsabilidade e com liberdade. A Igreja não pode indicar nomes ou partidos. Os critérios de defesa da vida, do começo ao final, dos direitos humanos, da educação, da saúde, são questões importantes. A responsabilidade do voto é de cada um.”[3]

Segundo Jesus, o que nos diferencia como seus seguidores é o amor; amor pelo próximo, amor pela Verdade e amor por Deus. O amor ainda é o vínculo da perfeição, o “caminho mais excelente”. Mover-se pelo amor é ser movido pelo próprio Deus.
Aqui, irmãos, cabe a nós - a todos nós - uma reflexão: Qual o lugar da igreja no processo eleitoral? Como os cristãos podem ser sal da terra e luz do mundo em uma disputa eleitoral? É possível defender o Reino de Deus em detrimento dos nossos próprios interesses? Será que essa macabra ciranda politiqueira poderia ser de alguma forma evitada? Será que é possível defender valores sem vender a alma? E por fim: O nosso interesse reflete o interesse de Deus?
E você leitor, o que acha desses fatos?


Notas
[1]http://www1.folha.uol.com.br/poder/817799-campanha-de-serra-faz-ofertas-aevangelicos.shtm.
[2] http://juliosevero.blogspot.com
[3] http://www.ihu.unisinos.br/index.phpoption=com
noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=
37523

Comentários

  1. Na verdade hoje, ano de 2010, véspera de eleição, evangélicos até então reconhecidos como tal, estão se vendendo, ou melhor, estão mostrando a verdadeira personalidade. Diante desses fatos descaradamente mostrado através da mídia, não me resta mais nada a não ser dizer:
    DE DEPENDESSE DE MIM, NUNCA MAIS EVANGÉLICOS ESTARIAM NO PODER!
    Infelizmente não depende.

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  2. Erlon, a Paz de Cristo.
    Obrigado por seu comentário. Continue nos visitando será uma alegria recebê-lo neste espaço.

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