Debate Sobre Camisinha é Barulho por Nada

Por Luiz Felipe Pondé

Sempre me espanta o fato que se dá tanta atenção ao que o papa diz. Não porque ele não seja uma figura importante (no caso de Bento 16, também um teólogo importante), mas porque muita gente que faz barulho com o que fala não se diz católica. Afinal, por que tanta atenção? Talvez haja aí algo que a psicanálise possa responder: trauma com o pai? Ser contra a "camisinha" inviabiliza sua distribuição no mundo? Custo a crer que a fala da igreja diminua em uma dezena sequer o número de camisinhas acessíveis. Acho muito barulho por nada.A Igreja Católica é uma instituição antiga e sábia. Gente mal informada pensa o contrário. Esteve em muitas trincheiras ao longo de 2.000 anos, salvou gente, matou gente. Espírito e corpo, como todos nós. Teve e tem um papel civilizador essencial.Acho um erro quem considera possível descartar a posição da igreja para com "hábitos sexuais contemporâneos" de forma ligeira como se fora simples "atraso". Frases como "o mundo avançou muito" são normalmente indício de superficialidade analítica. Homens e mulheres continuam atolados nos mesmos dramas de amor, ódio, sexo e morte.

O foco da igreja deve ser a humanização da sexualidade, o que significa basicamente que se sexo é barato e amor é caro, o primeiro sem o segundo sempre corre o risco de ser degradante.Neste sentido, o uso da camisinha é apenas paliativo no combate a comportamentos sexuais promíscuos que aprofundam a contaminação com doenças sexualmente transmissíveis (DST).A melhor forma (todo mundo sabe) de combater DST é a mudança de comportamento sexual (tornar o sexo "mais caro" ao afeto). Mas isso ninguém quer pensar porque é "feio" dizer que a "vida como balada" é um beco sem saída. Mas é exatamente aí que a igreja destoa e por isso se torna essencial, para além das crenças de cada um. O pecado da Igreja Católica nesses assuntos é "elevar" demais o nível do debate, saindo do senso comum que é simplesmente achar que sexo se resolve "lavando o corpo com água". A igreja condena o pecado, mas não o pecador. Aceitar o uso de camisinhas em casos de prostituição pode ser apenas uma forma de "misericórdia" pelo coitado sexual que "vende" seu corpo como escravo.

Fonte
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2511201006.htm

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