Faxina Ét(n)ica

Por GIBEÁ*

Em menos de um ano de governo, a presidente Dilma Roussef já teve cinco baixas em seu ministério em virtude de denúncias de corrupção.

O fato de ter a presidente, ao contrário de seu antecessor, “lavado suas mãos” e deixado que o ministro acusado de irregularidades lutasse com suas próprias forças para se manter no cargo, o que, invariavelmente, não ocorreu, foi definido por alguns como sendo uma “faxina ética”, expressão que fez, inclusive, com que a popularidade da presidente voltasse a subir.

Estaria a presidente da República dando uma inflexão na costumeira política de leniência com a corrupção que tem caracterizado o chamado “presidencialismo de coalizão” em nosso país? Estaríamos iniciando um ciclo de honestidade na Administração Pública Federal?

Apesar de ser este o desejo que gostaríamos de sentir num país que, aliás, está, ainda que timidamente, voltando a se manifestar em termos de instauração da moralidade nos assuntos públicos, como provam as marchas contra a corrupção que têm sido promovidas pelas redes sociais da internet, num início de uma “primavera tupiniquim”, infelizmente não é isto que estamos a ver nos episódios de demissões de ministros no governo Dilma. Senão vejamos.

Por primeiro, é interessante observar que os ministros que se demitiram, com exceção do primeiro a cair, que foi Antonio Palocci, são todos de “partidos da base aliada”, ou seja, não pertenciam ao Partido dos Trabalhadores (PT), o partido da presidenta e o real governante do país.

Por segundo, todas as denúncias “surgiram” na imprensa a partir de dados que são “vazados” de órgãos governamentais ou de processos que se encontram no Tribunal de Contas da União com relatórios encaminhados aos órgãos do Poder Executivo.

Por terceiro, todos os ministros que se demitiram são “coincidentemente”, ministros que foram mantidos do governo anterior, sem exceção, ou seja, ministros que teriam sido “impostos” pelo ex-presidente Lula em suas negociações políticas antes, durante e após as eleições presidenciais de 2010.

Tais fatores mostram que as denúncias surgiram de “vazamentos” vindos do próprio governo, a mostrar, portanto, que são movimentos nascidos do próprio Poder Executivo, com interesses que não são propriamente de “faxina ética”, mas de “luta de poderes”, de “combate por espaços” dentro do governo, situação que, também não por acaso, surgiu após alguns difíceis embates do governo no Congresso Nacional para a aprovação de suas medidas, como, por exemplo, a discussão a respeito do Código Florestal ou a questão dos “royalties” do pré-sal, apesar da ampla maioria parlamentar, a mais ampla em toda a história do país desde a redemocratização.

O que se nota é que, em vez de uma “faxina ética”, o que existe é uma “faxina étnica”, ou seja, há uma demonstração clarevidente da retirada de poder de segmentos políticos que não pertencem ao Partido dos Trabalhadores, de retirada de poder dos chamados “partidos da base aliada”, numa nova configuração do Executivo em que não há mais “porteiras fechadas” impenetráveis em favor dos “partidos aliados”, como começou a ocorrer notadamente no segundo governo Lula.

O que se percebe é que o PT volta a querer dominar parcela significativa do Poder Executivo, como se fez no primeiro governo Lula, tentando, de alguma maneira, inclusive, fazer isto debaixo de uma “postura ética”, imagem que o partido gozava até o escândalo do “mensalão”, quando, então, fragilizado, teve de ceder “nacos de poder” para alguns grupos políticos que, agora, com as denúncias, são cada vez mais desmoralizados e obrigados a aceitar a redução de sua participação nos núcleos decisórios do país.

Ao mesmo tempo, conhecida como centralizadora, a presidente Dilma aproveita a situação para, também, “livrar-se” de ministros “incômodos”, que foram “herdados” do governo anterior, a fim de ter maior controle sobre os ministérios e, assim, efetuar um governo mais conforme às suas características pessoais de administração, como, aliás, demonstrou quando chefiava a Casa Civil da Presidência da República, o que, aliás, lhe deu amplas condições de conhecer “por dentro” toda a máquina governamental.

O que se percebe é que o PT prossegue com sua política de instituição de hegemonia em nosso país, querendo, sem sombra de dúvida, reduzir sobremaneira o poder dos “partidos da base aliada”, tornando-os meros caudatários do poder, meros instrumentos auxiliares para impor a sua vontade dentro de um país que, como bem disse o filósofo Olavo de Carvalho, não vive uma “democracia normal”, mas, sim, uma “democracia patológica”, em que há uma aparente e formal liberdade de expressão e de manifestação, mas onde não se pode, mais, ter uma “alternância efetiva de poder”, vez que não há como se modificar a linha de atuação e ideológica imprimida pelo governo atual.

Uma verdadeira “faxina ética” não se circunscreveria apenas a ministérios de “partidos da base aliada”, mas também alcançariam os ministérios dirigidos pelo PT, onde as mazelas são as mesmas, pois tudo é resultado do aparelhamento da máquina estatal para angariar fundos para as campanhas eleitorais, algo criado e forjado precisamente pelo PT, o que deveria ser feito numa reforma política, que não se tem interesse algum em fazer.

Uma verdadeira “faxina ética” não se preocuparia em tão somente inviabilizar ministros para forçá-los a pedir demissão, mas, por primeiro, seria caso de demissões antes de qualquer pedido, como também de modificação das estruturas e dos modos de se administrar, o que também não foi feito.

Tudo, pois, não passa de uma “retomada de espaço” do PT no governo, com uma tentativa de retomada de “imagem ética”, ou seja, é tão somente uma tentativa de retorno da situação vivida pelo PT antes do escândalo do “mensalão”, uma tentativa de retomada do projeto de poder que visa instituir no Brasil uma “democracia petista”, como já tinha sido planejado e o “escândalo do mensalão” prejudicou sobremaneira.

* Grupo Interdisciplinar Bíblico de Estudos e Análises (GIBEÁ), um grupo de estudos informal de estudos das Escrituras e análises com base na Bíblia Sagrada.

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