Davi e os Perigos da Vaidade 3/4

Por Caramuru A. Francisco

III – DAVI ARREPENDE-SE DO PECADO COMETIDO E ESCOLHE A PUNIÇÃO

O fato é que, apesar de ter feito o recenseamento meio que à revelia do que mandou o rei, quando Joabe veio trazer o resultado e a soma para Davi, o rei mostrou, uma vez mais, que era um homem segundo o coração de Deus. Havia, sim, pecado e, ao receber o relato do recenseamento, sentiu o entristecimento divino com sua atitude. A Bíblia diz que “doeu o coração de Davi” com este gesto e confessou o seu pecado, pedindo a Deus que lhe fosse tirada esta iniquidade (II Sm.24:10; I Cr.21:7,8).

Não estamos livres de pecar, pois não há homem que não peque (I Rs.8:46; II Cr.6:36), mas, quando pecamos, precisamos ter a sensibilidade espiritual para que peçamos perdão ao Senhor Jesus, o mais rapidamente possível, pedindo-Lhe perdão (I Jo.2:1,2). O homem que é salvo em Cristo Jesus não está, ainda, livre de pecar, enquanto não passa para a dimensão eterna, mas o pecado é um acidente, visto que os filhos de Deus não vivem pecando (I Jo.3:6-9).

Davi realmente se arrependeu de seu pecado e publicamente o confessou, no instante mesmo em que lhe era passado o relatório do recenseamento mal feito por Joabe. Tanto estava arrependido que nem questionou seu comandante do exército quanto ao descumprimento de suas ordens, tendo tão somente pedido perdão a Deus pelo erro cometido. Arrependimento envolve mudança de mentalidade, mudança de vida. Temos, realmente, nos arrependido de nossos pecados e pedido perdão?

Apesar de Davi ter se arrependido do mal que cometera, como sempre, há uma consequência decorrente deste erro. No dia seguinte à confissão, por ordem do Senhor, o profeta Gade trouxe uma mensagem para o rei: o Senhor propunha três penalidades para o pecado cometido, a saber (II Sm.24:13; I Cr.21:12):
a) sete (ou três) anos de fome sobre a terra
b) três meses de perseguição de Davi por seus inimigos
c) três dias de peste sobre a terra

Muitos indagam porque Deus permitiu a Davi que escolhesse que pena sofreria por causa do pecado cometido. Por que Deus não determinou logo o que aconteceria? Por que deixar esta escolha para o próprio Davi? Precisamente para que Davi experimentasse que era, sim, o ungido do Senhor, o escolhido para reinar sobre Israel, mas que, acima de tudo dependia de Deus. Esta experiência da escolha da penalidade era apenas uma demonstração de Deus de que Davi era o escolhido mas devia obediência ao Senhor. Até hoje, quando se quer demonstrar quem é, efetivamente, o detentor do poder, utiliza-se da fórmula da “lista tríplice”, ou seja, alguém que está à testa de um determinado organismo ou repartição tem limitado o seu poder mediante a escolha de alternativas feitas por outra pessoa ou órgão. Davi tinha, assim, o aprendizado de que não poderia se ensoberbecer, mas manter-se humilde diante do Senhor.

A escolha feita por Davi parece ter sido motivada por interesses egoísticos. Em vez de escolher sofrer por três meses diante de seus inimigos, Davi preferiu que viesse uma peste sobre o povo de Israel. Apesar desta aparência de egocentrismo, na verdade, a escolha de Davi foi inspirada pelo Espírito Santo. Como tinha se arrependido de seus pecados, Davi estava na direção do Senhor e, como tal, escolheu a pena que era a mais justa, visto que teve o devido discernimento de que seu pecado tinha como causa a má conduta do próprio povo de Israel.

Davi não poderia escolher fugir da presença de seus inimigos, porque Israel já o havia feito fugir de Absalão. Com relação à fome, Israel já tinha sofrido fome por causa do que Saul havia feito sobre os gibeonitas, não querendo o rei que se tivesse um outro período de escassez. Davi pediu a pena que atingiria os culpados, no caso, o povo de Israel, no período mais breve de tempo, ou seja, apenas três dias (II Sm.24:14; I Cr.21:13).

Nesta resposta, também, Davi mostra que é muito melhor confiar na misericórdia de Deus do que nos homens. Nas mãos do Senhor, até a penalidade é mais branda, mais piedosa, enquanto que, nas mãos dos homens, até os louvores e as benesses são vis. Davi também mostrava ao povo que fora um tolo em confiar no seu próprio braço e que o povo de Israel deveria confiar única e exclusivamente em Deus.

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