Pregação e Responsabilidade

Por Francikley Vito

É sabido que Homilética, em sua definição mais simples, é “a arte de preparação e apresentação do sermão”; que por sua vez é o “discurso de caráter religioso”. Portanto, quando usamos de técnicas para preparação e entrega do sermão estamos fazendo uso da Homilética. Assim, a Homilética como arte depende da inspiração, ou sensibilidade. Cabe dizer, porém, que sensibilidade ou inspiração nada tem a ver com “inspiração plenária”, que é a inspiração dada por Deus para composição de Sua Palavra. Falando da inspiração de maneira comum, ou seja, a inspiração que nos leva a produzir Arte. O filosofo Mikhail Bakhtin (1895-1975) nos adverte dizendo:

“O indivíduo deve tornar-se inteiramente responsável [...] e nada de citar a ‘inspiração’ para justificar a irresponsabilidade. A inspiração que ignora a vida e é ela mesma ignorada pela vida não é inspiração mas obsessão. Arte e vida não são a mesma coisas, mas devem tornar-se algo singular em mim, na unidade da minha responsabilidade”.[1]

É claro que o filosofo alemão nos fala de Arte entendida como “habilidade humana de pôr em prática uma idéia”[2], especialmente a Literatura, que era uma dos alvos dos seus estudos.

Mas nós, penso, podemos usar este texto, e os conceitos nele apresentados, para reflexão da nossa prática como pregadores da Palavra de Deus, que fomos escolhidos para “proclamação das Boas Novas”. Portanto, o filosofo nos lembra que nós (1) não devemos usar da nossa inspiração para desculpar a nossa irresponsabilidade, tanto no estudo quanto na pregação da Palavra de Deus; e também que (2) a nossa pregação (isso trazendo para nosso co-texto) não pode ignorar a realidade, nossa e dos outros. Uma pregação que ignora o real é, no mínimo, fantasiosa.

Notas
[1]BAKHTIN, Mikhail. Arte e Responsabilidade.
(In: Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. XXXIV).
[2]Minidicionário Houaiss. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

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