Os Profetas Anteriores, ou Não Escritores 2/5

Por Caramuru A. Francisco


II – SAMUEL E A RESTAURAÇÃO DA ATIVIDADE PROFÉTICA EM ISRAEL

Em At.3:24, o apóstolo Pedro menciona Samuel como o primeiro dos profetas que havia anunciado os dias da dispensação da graça, os dias da consumação da obra salvadora de Cristo no Calvário. Tal expressão do apóstolo pode dar a entender que os profetas que foram levantados antes de Samuel não tinham em conta a salvação da humanidade, o que sabemos não ser correto.

A expressão do apóstolo mostra-nos que, a partir de Samuel, há uma renovação da atividade profética, que deixa de ser rara e esporádica, para ser uma constante até Malaquias, quando, então, ocorre o “silêncio profético” de aproximadamente 400 (quatrocentos) anos, interrompido com o surgimento de João Batista.

Samuel é uma personagem importantíssima, pois, a partir de seu chamado como profeta pelo Senhor, ainda na tenra idade, passou ele a se conscientizar da necessidade que tinha o povo de Israel de que fossem criadas condições para que, de forma contínua e ininterrupta, houvesse um grupo de pessoas que se dedicassem a servir ao Senhor e a se dispor a ensinar ao povo a lei.

Samuel percebeu que o grande drama vivido por Israel era a ausência de uma continuidade na fidelidade ao Senhor, de modo que, geração após geração, havia a corrupção com o envolvimento com a idolatria e a consequente opressão permitida por Deus junto a povos estrangeiros, a fim de que o povo se arrependesse e não se perdesse. Esta tinha sido a sina da época dos juízes, que é tão bem retratada no livro dos Juízes, que a tradição judaica entende ter sido redigido pelo próprio Samuel.

Por isso, Samuel, após ter livrado os israelitas do domínio dos filisteus (I Sm.7:1-17), Samuel passou a julgar a todo o Israel, de forma itinerante, indo ao encontro do povo e criando a “escola dos profetas” ou “rancho dos profetas”, locais onde passou a reunir aqueles que se dispunham a servir a Deus, seja através do ofício profético a que eram chamados pelo Senhor, seja através do aprendizado e do preparo ao ensino da lei a todo o povo (“os filhos dos profetas”, ou seja, os que aprendiam com os profetas) (I Sm.10:5,10).

Com Samuel, também, o Senhor começou a mostrar ao povo o Seu plano da salvação de forma mais minudente, revelando que o Messias viria de uma linhagem real, linhagem esta iniciada com Davi. A partir da unção de Davi, profetizada por Samuel oito anos antes de sua realização por ele próprio (I Sm.13:14; 16:13), começa o Senhor a revelar a linhagem familiar do Messias, motivo por que Pedro menciona Samuel em primeiro lugar no rol dos profetas que falavam do Cristo e de Sua obra.

A partir de Samuel, cujo nome quer dizer “ouvir de Deus” ou “nome de Deus”, Deus passou a ser ouvido e o Seu nome, conhecido de forma praticamente ininterrupta no meio de Israel, sendo revigorada sobremaneira a atividade profética, a “voz de Deus na Terra”, como denominou, de forma muito feliz, nosso ilustre comentarista.

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