A Minhoca no Anzol


Por GIBEÁ*

Após algumas demonstrações de independência da Frente Parlamentar Evangélica, que tentou responsabilizar o ex-ministro da Educação e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad; que exigiu retratação do secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, diante de suas declarações de que é hora de se iniciar um “embate ideológico” contra os evangélicos pela conquista da nova classe média e, por fim, demonstrou irritação com a escolha de Eleonora Minenucci, ativista pró-aborto para a Secretaria Especial de Política para Mulheres, o governo Dilma Roussef resolveu contra-atacar, entregando a Secretaria Especial da Pesca e Aquicultura para o senador Marcelo Crivella (PRB/RJ), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e um dos três senadores evangélicos.

Com esta atitude, a presidente Dilma Roussef tenta matar vários coelhos com uma só cajadada: busca criar laços com o PRB (Partido Republicano Brasileiro), criatura da Igreja Universal do Reino de Deus, partido da base aliada do governo que se encontrava sem nenhum cargo no primeiro escalão do governo desde o término do mandato do ex-vice-presidente José Alencar, que pertencia a esse partido, evitando que o partido pudesse se desgarrar da base aliada, compensando, assim, juntamente com o novo partido, PSD (Partido Social Democrático), do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, a perda do apoio do PR (Partido da República) e eventual perda do apoio do PDT (Partido Democrático Trabalhista), diante das mudanças recentes no ministério.

Além disso, traz para o primeiro escalão do governo um nome da “bancada evangélica”, gerando, assim, alguém que possa articular com os evangélicos o apoio ao governo, depois da nítida perda de confiança que passou a ter, perante este segmento, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que, até então, era o responsável por tal interlocução, até porque denúncias veiculadas pela revista Veja a respeito de irregularidades cometidas durante a campanha eleitoral de Dilma e seu relacionamento com evangélicos podem ainda mais prejudicar o papel do secretário-geral neste papel.

De quebra, ainda, a entrada do PRB no governo representa a possibilidade de apoio do partido às candidaturas governistas nas duas principais capitais do país. No Rio de Janeiro, o PRB fica impedido de tentar, com o próprio Crivella, a prefeitura, levando o partido a um apoio ao atual prefeito, Eduardo Paes, num momento em que outra liderança evangélica do estado, o ex-governador e atual deputado federal Anthony Garotinho sela um acordo com seu desafeto César Maia, do DEM (Democratas), união que pode ameaçar a reeleição até então tranquila do atual prefeito.

Em São Paulo, a entrada do PRB também pode significar o sepultamento da pré-candidatura do ex-deputado federal Celso Russomano, que foi para o PRB para ser candidato a prefeito. Russomano é o segundo colocado nas pesquisas de opinião, mantendo cerca de 15 a 20% das preferências, mesmo depois da entrada na disputa do ex-governador José Serra (PSDB) e sua saída do cenário, com eventual apoio ao ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), seria extremamente providencial para os planos governistas na maior cidade brasileira.

Como se não bastasse isso, a nomeação fez tirar do Senado o senador Marcelo Crivella, um dos maiores batalhadores, ao lado do senador Magno Malta (PR/ES) contra a aprovação do famigerado PL 122/2006, que busca criminalizar a homofobia no Brasil. Embora seja também evangélico o suplente de Crivella, o senador Eduardo Lopes, também, do PRB, nunca se sabe se terá a mesma desenvoltura do novo ministro da Pesca nesta questão.

Explica-se, pois, porque, assim que nomeado, o senador Crivella tenha dito que de pesca não sabe sequer “pôr minhoca no anzol”. Mais uma vez vemos que, no Brasil, o que menos importa é a competência e o mérito administrativo, mas tão somente os interesses mesquinhos e escusos daquilo que Rui Barbosa chamava de “politicagem” ou “politicalha”.

A imagem dada pelo senador, agora ministro, não deixa, porém, de ser sugestiva e nos convida a uma reflexão e a uma vigilância.

No momento mesmo em que o governo mostra que se está num momento de “embate ideológico” contra os evangélicos, escolhidos como a “bola da vez”, um deles é guindado a um ministério, de pouca expressão, mas numa indisfarçada tentativa de cooptação, “em grande estilo”, deste segmento.

Trata-se de uma verdadeira “minhoca no anzol” que se apresenta aos “peixes”, “grandes ou pequenos”, da “bancada evangélica”, uma oferta de “mais poder e dinheiro”, em troca do abandono dos valores e dos princípios que a bancada tem começado, ainda que timidamente, a defender com mais afinco no Congresso Nacional.

Agora que os evangélicos começam a esboçar uma resistência a medidas nitidamente anticristãs do governo Dilma Roussef e a pôr à prova as juras de respeito à liberdade religiosa e aos princípios cristãos feitos durante a campanha eleitoral, é-lhes oferecida a oportunidade de se calarem e deixarem o governo prosseguir com sua agenda, enquanto eles se aproveitam das benesses dos cargos públicos.

Foi assim que o PT cooptou as velhas oligarquias regionais que sempre lhe foram contrárias. A partir da posse do governo, em 2003, os petistas souberam neutralizar toda e qualquer oposição dos “velhos coronéis”, entregando-os nacos lucrativos do aparelho estatal, enquanto, paulatinamente, implantavam seu programa de governo e, de forma vagarosa mas irreversível, transferiam os “currais eleitorais” para si mesmos.

Agora, por exemplo, quando o PMDB percebe que o PT está quase a dominar os rincões em que sempre o PMDB dominou, é tarde demais. Os Sarneys, Renans e outros oligarcas notam, tardiamente, que, não muito tempo depois destes dias, estarão irremediavelmente desalojados da política nacional.

Será que “a minhoca no anzol” será bem sucedida? Será que nossos parlamentares preferirão locupletar-se com “o prêmio da injustiça”, a exemplo de Balaão, negando a fé e deixando de defender os valores e princípios cristãos?

Diante desta conjuntura, é fundamental que os evangélicos de todo o país se mobilizem para pressionar a bancada evangélica a não desistir dos valores e princípios cristãos e de continuar com esta postura de enfrentamento contra a agenda anticristã do governo brasileiro. Sem tal pressão, a ser feita mediante oração e ação política, tememos que os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas venham a sufocar a Palavra de Deus nos corações dos parlamentares, que, assim, venham a ser “pescados” pelo governo e neutralizados nesta sua ainda mui tímida ação para evitar a descristianização total da sociedade brasileira.

Que os parlamentares evangélicos não se deixem enganar e ajam como os verdadeiros e genuínos servos do Senhor ao longo dos séculos, rejeitando o enriquecimento fácil, a posse de prestígio, dinheiro e poder, continuando a defender os valores e princípios cristãos, sendo um elemento catalisador de uma resistência que impeça a consolidação do projeto anticristão que está sendo implantado no Brasil sob o comando do PT. Que Deus nos ajude neste intento, mas que façamos, como Igreja do Senhor neste país, a nossa parte, seja na intercessão, seja na pressão política.

* Grupo Interdisciplinar Bíblico de Estudos e Análises, grupo de estudos formado por ex-alunos e professores da Faculdade Evangélica de São Paulo (FAESP).

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