O Culto Pentecostal Que Não Deu Certo 3/4

Por Caramuru A. Francisco

Disse Jesus que Ele era o caminho, a verdade e a vida e que ninguém viria ao Pai senão por Ele. Ele é o caminho, Ele é a forma pela qual chegamos a uma plena comunhão com o Senhor.
Não aceitemos outros caminhos, outros modos de serviço a Deus, não aceitemos falsos Cristos, que estão, notadamente nestes últimos dias, apresentando-se em cada esquina, em cada ponto da cidade ou do campo, buscando desviar a quem possa, agentes de Satanás que são.
Sirvamos ao Senhor dentro do modelo estabelecido pela Sua Palavra, sem inovações, sem modismos, sem carro novo e, assim, com certeza, desfrutaremos da presença de Deus até chegarmos a Jerusalém.

A festividade, aparentemente espiritual e alegre, um verdadeiro "culto pentecostal", para nos utilizarmos de expressão corriqueira do povo de Deus nos dias atuais, prosseguia alegre e a alegria invadia os corações de todos, a começar do rei Davi.
Era uma grande confraternização, era um festa emocionante, que fazia com que lágrimas corressem pelas faces de todos quantos ali estavam. A música era tocante e a todos sensibilizava.
Era, porém, uma alegria puramente carnal. Eram emoções, legítimas e sinceras, não resta dúvida, mas emoções que brotavam da carne, dos sentimentos do homem, que não tinham como origem o Espírito de Deus.
Sim! É possível alguém se emocionar numa festividade desta natureza como se emocionam as pessoas com peças teatrais, romances, situações as mais variadas da vida real, filmes e outras coisas similares.
Os crentes são seres humanos e a emoção faz parte de suas vidas como a de qualquer outro.
Entretanto, a emoção não vem necessariamente de uma atuação do Espírito Santo e, muitas das vezes, é algo decorrente de nossa própria estrutura psíquico-corporal.
Era esta a emoção que invadia os corações de todos aqueles que participavam daquela festividade e é a espécie de sentimento que existe em muitas festividades que são realizadas atualmente no meio do povo de Deus.

Não se iluda. Jesus disse, o que é nascido da carne, é carne e todo sentimento que nasce fora das diretrizes e dos parâmetros estabelecidos pela Palavra de Deus não pode ser algo espiritual, mas será apenas uma estratégia carnal, que fruto espiritual algum poderá gerar.
Ao se chegar à eira de Quidom, porém, revelou-se a verdade, desapareceram as aparências.
A eira é um terreno liso e duro onde se limpam e se secam cereais ou legumes. Era, pois, um terreno que tinha muitos restos de cereais, muita palha, em que se poderia, como realmente ocorreu, haver o tropeço dos bois que conduziam o carro novo.
A eira de Quidom representa o momento da dificuldade, o instante de atenção e vigilância que se deve ter na caminhada.
Não se trava de nenhuma área de grande dificuldade, como uma ladeira, um vale profundo, ou algo similar. Era apenas uma eira, um terreno em que haveria algum senão, mas que não poderia se comparar a qualquer dos acidentes gegoráficos que, por si sós, complicam e dificultam sobremaneira uma viagem, mormente nos dias em que os fatos se deram.
Mas, numa vida superficial, numa vida de aparência, fora da direção de Deus e que prima pela comodidade e pela irresponsabilidade, qualquer eira se torna um perigoso obstáculo, um obstáculo que será intransponível.
Bem disse o Senhor, ao finalizar o Sermão do Monte, que só aqueles que ouvem e praticam as Suas palavras podem ser comparados aos que edificam suas casas sobre a rocha e que suportam os ventos, as tempestades e as correntes de águas, que são símbolos, respectivamente, das adversidades causadas pelos nossos atos, das provas de Deus e das tentações do adversário.
Os outros, que embora ouçam as palavras do Senhor mas não as praticam, disse Jesus, são como aqueles que edificam suas casas sobre a areia, néscios que sucumbirão quando vierem os ventos, as tempestades e correntes de águas.
Assim são aqueles que, deixando de lado o que manda a Palavra de Deus, preferem o carro novo, perseveram em servir a Deus ao seu modo e de acordo com os seus interesses. Edificam suas vidas espirituais sobre a areia, que é exatamente o fundamento que escolheram, a sua auto-suficiência, o evangelho de facilidades, o carro novo ao invés do peso e da responsabilidade dos varais.
À primeira adversidade, sucumbem, não resistem, porque não têm fundamento, porque não tem seguido a Palavra do Senhor.

É, realmente, preocupante se verificar, nas igrejas, que muitos não têm buscado aprimorar e os líderes em levar o povo a se aprimorar na Palavra do Senhor e na Sua doutrina.
Não há uma real disposição em se fazer um discipulado junto aos neoconversos, incutindo-lhes a sã doutrina e lhes dando alimento espiritual sadio para que possam, no dia mau, havendo feito tudo, ficar firmes.
Mister se faz que a Igreja regue o terreno, adube-o, para que a semente possa germinar e dar fruto, sem o que, inevitavelmente, o novo convertido poderá ser sufocado pelos cuidados deste mundo, por não haver profundidade em sua terra, bem como Ter arrebatada a semente da palavra do seu coração pelo inimigo ou morrer de inanição, por falta de alimento.
A quantidade, o barulho, a emoção, nada disse traz para o povo de Deus o fundamento da Palavra de Deus, o alicerce para que se enfrentem as dificuldades, a rocha, que é Cristo Jesus, que é quem deve ser formado em cada um de nós (Gl.4:9).
Quando isto não ocorre, uma simples eira, um terreno liso e duro, sem buracos, mas que contém um pouco de palha e restos de cereais, é suficiente para trazer a morte e para dar fim a toda a pseudo-espiritualidade existente.
Pois bem, bastou chegar-se a eira de Quidom, a uma primeira dificuldade, ainda que de pequenas proporções, para que os bois começassem a tropeçar.
O carro novo não resistia sequer a uma eira, a um terreno com um grau mínimo de dificuldade, assim como as inovações doutrinário-teológicas não podem resistir ao mínimo de detida meditação da Palavra, ao mínimo de argumentação, daí porque apelem sempre para a emoção, para o êxtase e fujam, desesperadamente, da exposição criteriosa e ungida da Palavra de Deus.
Bastou uma eira para que os bois, aqueles que estavam encarregados pelos comodistas, a levar a arca, que se encontrava à vista de todos no carro novo, , começassem a tropeçar.

Estivessem os levitas com seus varais, levando a arca, devidamente coberta pelo véu, pela cobertura de peles de teixugos e pelo pano azul, certamente a eira não seria problema algum para a travessia da arca rumo a Jerusalém.
Mas, ao invés de levitas, ao invés de pessoas devidamente separadas por ordem de Deus, quem estava a conduzir a arca eram bois, animais irracionais, sem capacidade de discernimento.
Triste fim este o de um ajuntamento em que a condução dos trabalhos, a condução em busca da presença de Deus fica com bois, com animais irracionais, com seres desprovidos de espiritualidade, de discernimento espiritual.
Quantos não são estes ajuntamentos, em que bois ditam as regras e a direção que se deve tomar, apesar de estarem ali líderes escolhidos por Deus, como era o caso de Davi ?
Quantos não são os movimentos que, por serem liderados por bois, por se terem tirado as responsabilidades impostas a cada crente, na primeira dificuldade, na simples eira de Quidom, tragicamente sucumbem, para escândalo e tristeza e, o que é pior, para morte de muitos ?
Entretanto, tal qual se deu em Quiriate-Jearim, ou um pouco além daquela cidade de Judá, assim se dá em muitos ajuntamentos, em muitos movimentos hodiernos, em que estão a trocar a cruz pelas facilidades, em que já não se ouve mais a série e grave palavra do Senhor: "quem quiser me seguir, tome a sua cruz e me siga".

Os bois começaram a tropeçar e o carro novo não deu mostras de que iria segurar a arca, que estava a ponto de cair no chão e, quem sabe, até quebrar, o que seria um escândalo inominável, mesmo para um povo que se conformava em alegrar-se segundo suas vontades, mesmo para quem preferia Ter seus deleites religiosos ao invés de assumir uma responsável adoração a Deus.
É neste instante que surge a figura de Uzá, aquele que, com a própria vida, levaria o rei e todo aquele ajuntamento de volta à realidade espiritual, à consciência da verdade.

Diz a Bíblia que Uzá era um dos filhos de Abinadabe(II Sm.6:3) e que, juntamente com seu irmão Aiô, guiavam o carro novo.
Muito provavelmente, ele e seu irmão tinham sido um dos principais responsáveis pela fabricação do carro novo. Portanto, era pessoa que estava intimamente ligada com esta inovação, que zelava pela manutenção das aparências e da inovação trazida para o ajuntamento.
Deveria ser, provavelmente, um levita, já que a arca teria estado sob os cuidados de seu pai durante todo o tempo em que a arca esteve em Quiriate-Jearim e, portanto, mais do que ninguém, sabia das normas e da necessidade de que a arca fosse levada nos ombros pelos levitas e não num carro novo.
Diz a Bíblia, também, que, enquanto seu irmão Aiô estava diante da arca, ou seja, à frente, procurando, muito provavelmente, dirigir os bois que levavam o carro novo, Uzá, bem ao contrário, se encontrava bem próximo ao carro novo, perto da arca do Senhor.
Estava, como bem se observa, totalmente aborvido na sua admiração pela forma mais confortável pela qual se estava a levar a arca do concerto.
Embevecido estava pela sua obra-prima, pela comodidade alcançada, pela facilidade criada. Mal podia se conter o jovem Uzá com o sucesso e o êxito daquele ajuntamento e, certamente, já sonhava com as conseqûências de seu gesto perante o rei Davi quando chegasse a Jerusalém.

Ao invés de ajudar seu irmão Aiô, que, mesmo dentro da comodidade, ainda procurou o que fazer para o sucesso da viagem, Uzá estava, mesmo, era preocupado em saciar seu ego, em demonstrar a sua auto-suficiência, era o personagem mais comprometido com o lamentável estado de coisas daquele ajuntamento do ponto-de-vista espiritual.
Caminhava praticamente ao lado da arca, colocava, para se utilizar de linguagem bem popular de nossos interioranos, "o carro na frente dos bois", visto que se preocupava muito mais em demonstrar a firmeza, a esperteza e o êxito de seu carro novo do que em servir a Deus, em cumprir a Sua palavra e, mesmo, de, pelo menos, ajudar a guiar os bois que estavam a fazer a tarefa que, de direito, deveria ser exercida pelos levitas, em especial aqueles que haviam guardado a arca por tantos anos.

Quando deixamos a visão de Deus e passamos a nos guiar por nós mesmos, passamos a ser cegos espirituais, deixamos de compreender as coisas do Senhor e nos tornamos tolos por completo, everedando pelo caminho da morte que, muitas vezes, é sem qualquer volta.
Uzá não surge na narrativa por acaso nem sua morte será uma fatalidade, uma demonstração surpreendente da ira de Deus. Não !
Uzá era o principal personagem, o protótipo do espírito alheio a Deus que tomara conta daquele ajuntamento, que transformara aquele "culto pentecostal" numa reunião festiva, fraterna, barulhenta, vistosa mas sem qualquer presença real do Senhor.
O povo se divertia, o povo se confraternizava, o povo se apresentava piedoso, mas, na verdade, apenas estava seguindo seu já secular caminhar de desprezo e desconsideração ao Senhor.

Naquele ajuntamento, por incrível que possa parecer, o povo apenas estava a dizer, em alto e bom som, que continuava a deixar Deus de lado, que persistia em negar ao Senhor a primazia em suas vidas e na vida da nação.
Naquele ajuntamento, ao contrário do que tanto sonhava o rei Davi, o povo não estava restabelecendo sua comunhão com Deus nem entronizando ao Senhor, uma vez, sobre Israel, mas, bem ao contrário, continuavam a colocar a sua vontade como ponto de referência, como razão de ser de suas atitudes e condutas. Como haviam rejeitado a Deus como rei nos dias de Samuel e Saul, estavam prontos a fazê-lo uma vez mais durante o governo de Davi.
Uzá estava completamente absorvido pelo carro novo e pela situação, quando vê que os bois começam a tropeçar e que a arca poderia tombar.
Que fazer, então ?

Comentários

  1. Sim Estimado Irmão! A emoção pode fazer parte de nossa Vida Espiritual, contudo não deve ser a causa prinicpal de nosso deleite, pois este deve ser concedido pela Graça de Deus. Parabéns pelo Post.

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  2. Querido Rev. Eugênio, obrigado por nos visitar e seguir este blog. É um prazer tê-lo conosco e ouvir o seu comentário. Um abraço.

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  3. Para mim este comentário foi muito bom,gostaria que fosse completo,tenho a mesma visão sobre o assunto, e fico feliz por saber que não estou só,neste tipo de compreeção. que Dues continue,te enriquesendo no saber. Paz

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  4. Meu querido irmão, a Paz de Cristo.
    Obrigado pelo seu comentário, e continue nos visitando. Um abraço.

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