O Ministério Apostólico 1/10

Por Caramuru A. Francisco

“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina.” (Ef.2:20).

OS SIGNIFICADOS DA PALAVRA “APÓSTOLO”

Muito se tem discutido a respeito da existência, ou não, na Igreja, em nossos dias, do “ministério apostólico”. A Igreja teria, ainda hoje, “apóstolos”? Afinal de contas, Paulo, ao escrever aos efésios, disse que o Senhor Jesus daria “uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e doutores” (Ef.4:11), ou seja, haveria cinco dons ministeriais na Igreja, um dos quais o de “apóstolo”.

Com base nesta passagem bíblica, notadamente nos últimos anos, muitos líderes ditos evangélicos têm se intitulado “apóstolos”, querendo, com isso, afirmar que estão à frente dos demais ministros de seu movimento, de sua denominação, que são, em nível hierárquico inferior, “bispos” ou “pastores”. Mesmo nas Assembleias de Deus já começaram a surgir alguns “apóstolos”, ainda que, por enquanto, em igrejas que, por terem assim agido, acabaram se desligando das principais convenções. Haveria base bíblica para isto? Há, na atualidade, o dom de “apóstolo”?

Por primeiro, devemos lembrar que a palavra “apóstolo” é uma palavra grega, que já existia quando do início da história da Igreja. Quase todas as questões surgidas atualmente a respeito de títulos, funções e dons ministeriais no meio evangélico partem de premissas que desconsideram a realidade de que, com a vinda de Cristo e o início da dispensação da graça, algumas palavras adquiriram novos significados, significados específicos decorrentes da instalação da nova aliança, sem que, no entanto, na própria redação do Novo Testamento, não tenham sido utilizadas em seus significados primitivos, alheios às instituições surgidas com o aparecimento da Igreja.

Um exemplo disso é a palavra “diácono” (διάκονος), cujo significado em grego é “servo”, “servidor” e que, após a questão surgida na igreja de Jerusalém no tocante à assistência às viúvas, passou a designar um oficial da igreja encarregado de servir as mesas (At.6:1-6). Assim, muitas vezes, no texto grego do Novo Testamento, aparece a palavra “diácono”, mas no seu significado original, de “servidor”, de “pessoa que presta serviços” (significado muito semelhante ao de “servente” em “servente de pedreiro”, que usamos em português), que nada tem que ver com a função criada após este problema na igreja de Jerusalém. Assim, quando se diz que Febe era “diaconisa”, como se vê em Rm.16:1, em algumas versões, em absoluto se quer dizer que Febe havia sido separada para o “diaconato” como aqueles sete varões em Jerusalém, mas apenas se diz que ela era uma mulher prestativa, que “servia” os irmãos, que lhes prestava serviços (hospedagem, fornecimento de alimentação, cuidados diversos etc. etc. etc.), não havendo base alguma para, a partir daí, dizer-se que mulheres podem exercer o “diaconato”, máxime diante de textos como At.6:3 e I Tm.3:12, que indicam que tal função é privativa dos homens.

Mas, voltando à questão do “apostolado”, temos aqui a mesma situação. A palavra “apóstolo”(απόστολος) significa “delegado”, “enviado”, “despachado”, vindo do verbo “apostello” (αποστέλλω), cujo significado é “enviar”, “despachar”. Assim, “apóstolo” é um “enviado”, alguém que é mandado para fazer algo para outrem. Neste sentido, aliás, é que se disse que o Senhor Jesus deve ser considerado como “o apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão” (Hb.3:1), ou seja, como o “enviado” do Pai à humanidade para a salvação (Mc.9:37; Mc.12:6; Lc.4:18; Jo.3:17; 4:34; 5:23,37; 6:38).

Quando Jesus iniciou o Seu ministério terreno, começou a chamar aqueles que deveriam acompanhá-l’O (Mc.4:13). Dentre estes homens que foram chamados por Ele e que passaram a segui-l’O para serem “pescadores de homens” (Mt.4:19), Jesus escolheu doze “para que estivessem com Ele, e os mandasse a pregar, e para que tivessem poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios” (Mc.3:14,15). Estes doze homens foram, pois, escolhidos para um trabalho específico, para que fossem enviados e pregassem às ovelhas perdidas de Israel, já que, no exíguo tempo que Jesus tinha, não poderia Ele pessoalmente, ir a toda a extensão da Palestina judaica (Mc.6:7). Estes doze foram “enviados” por Jesus para este trabalho e, por isso, passaram a ser chamados de “apóstolos”, ou seja, “enviados”.

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