O Ministério Apostólico 3/10

Por Caramuru A. Francisco

Na sequência da conversão de Paulo, vemos que o Senhor Jesus falou em visão a Ananias que Paulo era para Ele “um vaso escolhido para levar o Seu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel” (At.9:15), atestando, assim, que Paulo era “enviado” do Senhor notadamente para os gentios, motivo pelo qual diria que a ele havia sido confiado o “evangelho da incircuncisão” (Gl.2:7). Tinha-se mais uma demonstração de que Paulo assumia uma condição singular dentre os demais discípulos, verdadeiramente ocupando o lugar deixado por Judas Iscariotes.

Não é por outro motivo que Paulo passa a se intitular “apóstolo”, sempre reafirmando que isto não era consequência de sua vaidade ou presunção, mas a pura e cristalina vontade de Deus (I Co.1:1; II Co.1:1; Ef.1:1; Cl.1:1; II Tm.1:1). Ele fora “enviado” pessoalmente pelo Senhor Jesus e, mediante experiências pessoais retroativas, havia se tornado testemunha do ministério terreno de Jesus, tanto que chegou, mesmo, a mencionar um ensino de Cristo que nenhum dos evangelistas registrou (At.20:35). É, por isso até que Paulo se intitula um “apóstolo abortivo”, ou seja, como um “apóstolo nascido fora de época” (este é o sentido da palavra grega “ektroma” – εκτρωμα — utilizada no texto), alguém que, depois dos acontecimentos autorizadores da escolha de alguém como apóstolo, faz-se participantes dele.

Os judaizantes questionavam o “apostolado” de Paulo precisamente porque Paulo não acompanhara o ministério terreno de Jesus e por se voltar para a pregação do Evangelho aos gentios, não impondo aos convertidos a observância da lei de Moisés, o que atestaria, segundo eles, a “falsidade” de seu ministério apostólico, pois nada disso era feito ou realizado pelos outros onze (ou doze, já que, certamente, os judaizantes consideravam válida a substituição de Judas por Matias).

No entanto, como temos visto em II Coríntios, Paulo mostra que seu ministério nada tinha de inferior em relação aos demais apóstolos, sendo certo que a participação, ainda que a fora de época, do ministério terreno de Cristo e a sua condição peculiar de ser testemunha da ressurreição do Senhor superavam todos os óbices apresentados para o reconhecimento de seu apostolado, ainda mais diante da demonstração de Espírito e de poder que haviam caracterizado sua passagem por Corinto e por todos os lugares onde estava a implantar igrejas.

Ser “apóstolo”, pois, no contexto da Igreja, era ter sido testemunha do ministério terreno de Cristo, desde Seu batismo por João até a Sua ascensão aos céus e, ante este testemunho do cumprimento das Escrituras a respeito do Cristo, pregar o arrependimento e remissão dos pecados em todas as nações, começando por Jerusalém, cuidando do ministério da palavra e da oração (At.6:2,4), completando a construção da estrutura da Igreja que estava sendo edificada pelo Senhor Jesus (Mt.16:18).

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