O Ministério Apostólico 2/10

Por Caramuru A. Francisco

Os “apóstolos”, portanto, eram, dentre os discípulos de Jesus, aqueles que passaram a participar de um grupo seleto, mais próximo do Senhor, que foram “enviados”, num primeiro instante, para pregar aos israelitas e, desta maneira, fazer com que o trabalho de Jesus se estendesse a todo o Israel, como também fossem preparados para liderar a Igreja quando terminasse o ministério terreno de Jesus (Mc.10:32; Lc.8:1; 18:31; 22:14; Jo.6:70).

Desta maneira, a palavra “apóstolo”, que tinha o significado de “enviado”, passou a designar aqueles doze homens que, tendo sido enviados durante o ministério terreno de Jesus para completar-Lhe a obra da evangelização a todo o Israel, também haviam sido escolhidos por Jesus para continuar-lhe a obra, liderando a Igreja nos primeiros dias.

Esta condição foi plenamente compreendida pelos apóstolos após a ressurreição de Jesus. O Senhor, em Suas aparições, completando todo o ensino dos anos de Seu ministério terreno, falou-lhes a respeito do reino de Deus (At.1:3), mostrando-lhes que, como apóstolos, deveriam eles, que haviam testemunhado o cumprimento das Escrituras a respeito da morte e ressurreição de Cristo, pregar em Seu nome o arrependimento e a remissão dos pecados em todas as nações, começando por Jerusalém (Lc.24:44-48) e que, para realizar esta obra, deveriam eles aguardar o revestimento de poder (Lc.24:49).

Tanto assim é que, enquanto aguardavam tal revestimento de poder, os onze apóstolos sentiram a necessidade de completar o número de doze, que estava incompleto após a traição e suicídio de Judas Iscariotes, pois sabiam eles que o número de apóstolos tinha de ser doze, já que este havia sido o número escolhido pelo próprio Jesus, até porque aos apóstolos está reservado o julgamento das tribos de Israel durante o reino milenial (Mt.19:28; Lc.22:30).

Por isso, resolveram escolher um novo apóstolo, que ocupasse o lugar deixado por Judas Iscariotes, tendo, então, demonstrado toda a sua consciência do que era ser um “apóstolo”, ao apontar como requisitos do apostolado que se fosse “um varão que convivera com os demais apóstolos todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre eles, começando desde o batismo de João até o dia em que dentre eles foi recebido em cima, para que se fizesse testemunha de Sua ressurreição” (At.1:22).

Ante estas exigências, que confirmavam que o apostolado era algo peculiar e referente ao “envio” de Jesus durante o Seu ministério terreno, apenas dois candidatos se apresentaram naqueles quase cento e vinte discípulos, tendo sido lançadas sortes entre José Barsabás e Matias, sortes que foram favoráveis a este último que, a partir daquele momento, passou a ser contado com os onze apóstolos, “por voto comum” (At.1:26).

Este gesto dos apóstolos que levou à escolha de Matias, além de ter o mérito de nos dizer o que é ser “apóstolo”, também nos mostra que não houve, neste episódio, a intervenção divina que confirmasse esta substituição de Judas por Matias. Na verdade, a expressão de Lucas, que diz que “Matias foi contado por voto comum com os onze apóstolos”, por ser um texto inspirado pelo Espírito Santo, mostra-nos claramente que, para o Senhor Jesus, Matias não era apóstolo, embora tivesse passado a ser assim considerado, visto que o “voto comum” dos demais apóstolos não tem o mesmo valor da chamada feita pelo próprio Senhor Jesus, como já vimos antes.

Muito pelo contrário, na sequência da história da Igreja, veremos que é a Paulo que se terá esta chamada para o lugar de Judas Iscariotes. Com efeito, Paulo é o único, com exceção de João (que era um dos doze) a quem o Senhor Jesus aparece pessoalmente depois de Sua ascensão, no caminho de Damasco (At.9:4-6), como também o único que revela ter tido experiências pessoais diretas com o Senhor Jesus (I Co.11:23), expressão esta, aliás, o que é assaz elucidativo, que foi utilizada com respeito à ceia do Senhor, uma reunião que Jesus teve tão somente com os doze (Mt.26:20; Lc.22:14).

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