O Crente e a Confissão Positiva 1/2

Trad. Caramuru A. Francisco 


Esta declaração sobre o crente a confissão positiva foi aprovada como uma declaração oficial pelo Presbitério Geral das Assembleias de Deus [as Assembleias de Deus dos Estados Unidos da América, observação nossa]  em 19 de agosto de 1980.


As Assembleias de Deus desde os seus primeiros dias tem reconhecido a importância da vida de fé. A ela tem sido dada ênfase proeminente porque as Escrituras dão a ela proeminência.

O escritor aos hebreus aponta que sem fé é impossível agradar a Deus.Por isso, ele descreve a fé como crer em duas coisas: que Deus existe e que é o galardoador daqueles que O buscam (Hb.11:6).

Todas as bênçãos que Deus tem para o Seu povo são recebidas por fé. Salvação (At.16:31), batismo com o Espírito Santo (At.11:15-17), preservação divina (I Pe.1:5), herança de promessas que incluem a cura e a provisão de necessidades materiais (Hb.6:12) e a motivação para o testemunho (II Co.4:13), que estão entre as muitas provisões da graça de Deus.

Hoje, como em toda geração, é importante para os crentes estar atentos ao exemplo na Escritura de ser forte na fé (Rm.4:20-24). Eles devem estar de guarda contra qualquer coisa que possa enfraquecer ou destruir a fé. Eles precisam orar para seu acréscimo (Lc.17:5) e constantemente procurar cultivá-la através da leitura da Palavra de Deus (Rm.10:17).

O crente e a confissão positiva

Ocasionalmente, através da história da Igreja, as pessoas têm tomado posições extremas a respeito de grandes verdades bíblicas. Algumas vezes, mestres têm defendido estes extremos. Em outras ocasiões, seguidores de alguns mestres têm ido além além dos ensinos com repercussões desfavoráveis à causa de Cristo.

Confissão positiva e confissão negativa são expressões que, nos últimos anos, têm recebido aceitação em uma forma extrema em alguns círculos.Tanto a definição na escrita quanto o modo de uso dão alguma luz nas implicações destes termos.

O fato de que extremos são agora trazidos ao foco nesta declaração não implica, em absoluto, na rejeição da doutrina da confissão, que é uma importante verdade bíblica. A Bíblia ensina que as pessoas devem confessar seus pecados (I Jo.1:9), devem confessar Cristo (Mt.10:32; Rm.10:9,10), como também manter uma boa confissão (Hb.4:14; 10:23, Versão American Standard).

Mas quando as pessoas, para enfatizar uma doutrina, vão além ou ao contrário do que o ensino das Escrituras, eles não honram a doutrina. Bem ao contrário, trazem reprovação a ela e para a obra do Senhor. Por esta razão, é importante chamar a atenção para estes excessos e mostrar como eles estão em conflito com a Palavra de Deus.

Algumas posições sobre o ensino da confissão positiva

O ensino da confissão positiva fia-se em uma definição de um dicionário inglês da palavra confissão: “reconhecer ou possuir; admitir fé em”. A confissão é também descrita como afirmar algo em que se crê, testificar para algo conhecido e testemunhar uma verdade que já foi abraçada.

Esta visão caminha um passo a mais e divide a confissão em aspectos positivos e negativos. O negativo é admitir o pecado, a doença, a pobreza ou outras situações indesejáveis. A confissão positiva é reconhecer ou possuir situações desejáveis.

Enquanto haja variações de interpretação e de ênfase a respeito deste ensino, a conclusão parece ser que o indesejável pode ser evitado pela repressão de confissões negativas. O desejável pode ser desfrutado em se fazendo confissões positivas.

De acordo com esta visão, como expresso em várias publicações, o crente que se abstém de admitir o negativo e continua a afirmar o positivo assegura para si próprio circunstâncias desejáveis. Ele será capaz de predominar sobre a pobreza, o mal e a doença. Ele será doente somente se ele confessar que é doente. Alguns fazem uma distinção entre admitir os sintomas da enfermidade e a enfermidade mesma.

Esta visão defende que Deus quer que os crentes vistam as melhores roupas, dirijam os melhores carros, e tenham o melhor de tudo. Os crentes não precisam sofrer adversidades financeiras. Tudo que eles precisam é dizer a Satanás para tirar suas mãos do dinheiro deles. O crente pode ter tudo aquilo que ele diz que precisa, seja espiritual, físico ou financeiro. É ensino que a fé obriga a ação de Deus.

De acordo com esta posição, o que uma pessoa diz determina o que ele receberá e o que ele se tornará. Por conseguinte, as pessoas são instruídas a começar confessando mesmo se o que elas querem não pode ter sido realizado. Se uma pessoa quer dinheiro, ele deve confessar que o tem, ainda que isto não seja verdade. Se uma pessoa quer cura, ele deve confessar ainda que não seja obviamente o caso. É dito para as pessoas que elas podem ter tudo aquilo que elas dizem, e, por esta razão, um grande significado é atribuído à palavra dita. É reivindicado que a palavra dita, se repetida suficientemente, resultará eventualmente em fé que consegue a bênção desejada.

É compreensível que algumas pessoas queiram aceitar o ensino da confissão positiva. Ele promete uma vida livre de problemas e seus defensores parecem fundamentá-la com passagens das Escrituras. Os problemas desenvolvem-se, porém, quando afirmações da Bíblia são isoladas de seu contexto e do que o resto das Escrituras dizem a respeito do assunto. Os extremos geram verdade distorcida e eventualmente ferem os crentes tanto enquanto indivíduos e a causa de Cristo em geral.

Quando os crentes estudarem a vida de vitória e de fé que Deus tem para o Seu povo, é importante, como em toda doutrina, buscar pela ênfase balanceada das Escrituras. Isto ajudará a evitar os extremos que, eventualmente, frustrem mais do que ajudem os crentes no seu andar com Deus.

Os crentes devem considerar o ensino total das Escrituras

O apóstolo Paulo deu um importante princípio de interpretação das Escrituras que chamou de “comparar as coisas espirituais com as espirituais” (I Co.2:13). O ponto principal deste princípio é considerar que tudo que a Palavra de Deus tem a dizer sobre um dado assunto ao estabelecer uma doutrina. Somente uma doutrina baseada em uma visão global das Escrituras se conforma com esta regra bíblica de interpretação.

Quando o ensino da confissão positiva indica que admitir fraqueza é aceitar a derrota, admitir necessidade financeira é aceitar pobreza, e admitir doença é impedir a cura, ele está indo além e em contrariedade à harmonia das Escrituras.

Por exemplo, o rei Josafá admitiu que não tinha força alguma contra a aliança inimiga, mas Deus lhe deu uma vitória maravilhosa (II Cr.20). Paulo admitiu fraqueza e então declarou que quando ele estava fraco, então era forte porque o poder de Deus é aperfeiçoado na fraqueza (II Co.12:9,10).

Foi depois que os discípulos reconheceram que não tinham o suficiente para alimentar as multidões e admitiram isto que Cristo providenciou maravilhosamente um suprimento mais do que adequado (Lc.9:12,13). Foi depois que os discípulos admitiram que não haviam apanhado peixe algum que Jesus os dirigiu para um esforço muito bem sucedido (Jo.21:3-6).

Não foi dito a estas pessoas para substituir confissões negativas por confissões positivas que eram contrárias aos fatos. Elas declararam condições exatamente como elas eram em vez de fingir algo mais. Mesmo assim Deus interveio maravilhosamente mesmo tendo eles feito o que alguns chamam de confissões negativas.

Comparar as Escrituras com as Escrituras deixa claro que expressões verbais positivas nem sempre produzem efeitos felizes, nem que declarações negativas produzem sempre efeitos infelizes. Ensinar que líderes nos primeiros dias da Igreja como Paulo, Estevão ou Trófimo não viviam em um estado constante de fartura e de saúde porque não tinham a iluminação deste ensino é ir além e em contrariedade à Palavra de Deus. Uma doutrina somente será investigada e aprovada se ela se desenvolver dentro da estrutura do ensino total das Escrituras.

A palavra grega traduzida por “confessar” significa “falar a mesma coisa”. Quando as pessoas confessam Cristo, isto é dizer a mesma coisa que as Escrituras dizem em relação a Cristo. Quando as pessoas confessam o pecado, isto é dizer o mesmo que as Escrituras dizem a respeito de pecado. E quando as pessoas confessam alguma promessa das Escrituras, eles devem estar certas que elas estão dizendo a mesma coisa acerca daquela promessa como o ensino total das Escrituras a respeito daquele tema.

As palavras de Agostinho são apropriadas a este respeito: “Se você crê naquilo que você gosta do Evangelho e rejeita o que você não gosta, não é no Evangelho em que você crê, mas em você mesmo”.

Os crentes devem considerar adequadamente a vontade de Deus

Quando a doutrina da confissão positiva indica que uma pessoa pode ter tudo aquilo que ela diz, ela falha em enfatizar adequadamente que a vontade de Deus deve ser levada em conta. Davi tinha as melhores intenções quando ele externou seu desejo de construir um templo para o Senhor, mas não era a vontade de Deus (I Cor.17:4). Foi permitido a Davi coletar os materiais, mas coube a Salomão a construção do templo.

Paulo orou para que o espinho na carne fosse removido, mas não era a vontade de Deus. Invés de remover o espinho, o Senhor deu a Paulo graça suficiente (II Co.12:9).

A vontade de Deus pode ser conhecida e reivindicada pela fé, mas o desejo do coração não é sempre o critério pelo qual a vontade de Deus é determinada. Há vezes em que o agradável e o desejável pode não ser a vontade de Deus. Tiago fgaz referência a isto quando escreveu: “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossas concupiscências” (Tg.4:3). A palavra traduzida por  “concupiscências” [na Versão do Rei Tiago, observação do tradutor] não se refere a um desejo perverso mas a prazer ou desfrute, aquilo que o coração deseja. Várias traduções usam a palavra “deleite” em vez de “concupiscência” [como é o caso da Versão Almeida Revista e Corrigida, observação do tradutor].

No Getsêmane, Jesus pediu que se fosse possível o cálice fosse removido. Era o Seu desejo, mas, na Sua oração, Ele reconheceu a vontade de Deus e disse: “Todavia, não se faça a Mina vontade, mas a Tua” (Lc.22:42).

A Bíblia reconhece que há vezes em que um crente não saberá pelo que deverá orar. Ele não saberá qual é a vontade de Deus. Ele pode até ficar perplexo como Paulo algumas vezes ficou (II Co.4:8). Nestas situações, melhor do que simplesmente fazer uma confissão positiva baseada nos desejos do coração, o crente precisa reconhecer que o Espírito Santo intercede por ele de acordo com a vontade de Deus (Rm.8:26,27).

A vontade de Deus sempre deve ter prioridade sobre os planos e os desejos dos crentes. As palavras de Tiago devem ser constantemente guardadas à vista: “Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo” (Tg.4:15).

Obter o que o crente quer não é tão simples como repetir uma confissão positiva. Coisas agradáveis podem estar fora da vontade de Deus e, de modo inverso, coisas desagradáveis podem estar na vontade de Deus. É importante para o crente dizer como os amigos de Paulo disseram: “Seja feita a vontade  do Senhor” (At.21:14) — mais importante do que pedir uma vida livre de sofrimento.

Os crentes devem reconhecer a importância da oração inoportuna

Quando a visão da confissão positiva ensina que os crentes devem mais confessar que orar pelas coisas que Deus tem prometido, ela não toma conhecimento do ensino da Palavra de Deus a respeito da oração inoportuna. De acordo com alguns que perfilham esta doutrina da confissão positiva, as promessas de Deus estão na área das bênçãos materiais, físicas e espirituais: os crentes devem reivindicar ou confessar estas bênçãos e não orar por elas.

A instrução para não orar pelas bênçãos prometidas é contrário ao ensino da Palavra de Deus. O alimento é uma das bênçãos prometidas por Deus, mas Jesus ensinou Seus discípulos a orar: “O pão nosso de cada dia nós dá hoje” (Mt.6:11). A sabedoria é uma bênção prometida por Deus, mas as Escrituras declaram que se qualquer homem “tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada” (Tg.1:5). Jesus chamou o Espírito Santo de a promessa do Pai (Lc.24:49), mas também ensinou que Deus daria o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem (Lc.11:13).

Enquanto há vezes em que Deus disse ao povo para não orar, como no caso de Moisés no Mar Vermelho (Ex.14:15), há muitas passagens das Escrituras lembrando os crentes  a orar, e mais, orar sem cessar (Rm.12:12; Fp.4:6; I Ts.5:17).

Jesus enfatizou a importância da importunação na oração. A ilustração do amigo persistente que veio à meia-noite pedido por pão para apresentar a seus convidados tornou-se a base para a declaração de Cristo: “Pedi e dar-se-vos-á” (Lc.11:5-10). A parábola da viúva e do juiz iníquo tornou-se a ocasião para Nosso Senhor enfatizar a importunação na oração (Lc.18:1-8). Estas pessoas foram elogiadas pela importunação e não por uma confissão positiva sem oração.

Enquanto os caminhos de Deus estão acima dos caminhos do homem, e não podemos entender a razão de todo comando nas Escrituras, nós temos de saber que em Sua sabedoria Deus ordenou a oração como parte do processo incluído no encontro de uma necessidade. Mais do que uma indicação de dúvida, a oração inoportuna pode ser uma indicação de obediência e fé. 

Fonte: http://ag.org/top/Beliefs/Position_Papers/pp_downloads/pp_4183_confession.pdf 
Acesso em 16 dez. 2011
Tradução do Inglês de Caramuru Afonso Francisco.

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