O Crente e a Confissão Positiva 2/2

Trad. Caramuru A. Francisco 

Esta declaração sobre o crente a confissão positiva foi aprovada como uma declaração oficial pelo Presbitério Geral das Assembleias de Deus [as Assembleias de Deus dos Estados Unidos da América, observação nossa]  em 19 de agosto de 1980. (continuação...) 


Os crentes devem reconhecer que podem esperar sofrimento nesta vida

O ensino da confissão positiva defende que devemos viver como reis nesta vida. Ela ensina que os crentes devem dominar e não ser dominados pelas circunstâncias. A pobreza e a doença são comumente mencionadas entre as circunstâncias sobre as quais os crentes devem ter domínio.

Se os crentes escolhem os reis deste mundo como modelos, é verdade que eles buscarão uma vida livre de problemas (embora até mesmo os reis deste mundo não estejam livres de problemas). Eles estão mais preocupados com prosperidade física e material do que em crescimento espiritual. Quando os crentes escolhem o Rei dos reis como seu modelo, entretanto, seus desejos serão completamente diferentes. Eles serão transformados pelo Seu ensino e exemplo. Eles reconhecerão a verdade  que está escrita em Rm.8:17  a respeito dos coerdeiros de Cristo: “se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados”. Paulo foi ainda além ao se gloriar em suas enfermidades em lugar de negá-las (II Co.12:5-10).

Embora Cristo fosse rico, por amor de nós Se fez pobre (Ii Co.8:9). Ele podia dizer: “As raposas têm covis, e as aves dos céus têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt.8:20).

Enquanto Deus em Sua Providência dotou alguns com a capacidade de acumular riqueza maior que outros, alguma coisa está tragicamente faltando se não há boa vontade para fazer a vontade de Deus e abandonar tudo, se for necessário, inclusive os confortos do ser humano.

Jesus jamais cessou de ser Deus, e através do poder do Espírito Santo fez vários milagres, mas Ele não estava livre de sofrimentos. Ele sabia que deveria padecer muito dos anciãos (Mt.16:21; 17:21). Ele desejou comer a páscoa com os discípulos antes que sofresse (Lc.22:15). Depois de Sua morte, os discípulos reconheceram que o sofrimento de Cristo era cumprimento das profecias (Lc.24:25, 26, 32).

Quando os crentes percebem que reinar como reis nesta vida é tomar Cristo como modelo de rei, eles reconhecerão que isto pode envolver o sofrimento, que, algumas vezes, é muito mais real ficar com circunstâncias desagradáveis do que tentar fazer todas as circunstâncias agradáveis.

Foi mostrado a Paulo que ele deveria sofrer (At.9:16). Mais tarde ele se regozijou com seus sofrimentos para os colossenses. Ele viu que o seu sofrimento como o cumprimento “ na minha carne, do resto das aflições de Cristo, pelo Seu corpo, que é a Igreja” (Cl.1:24).

Deus promete suprir as necessidades dos crentes e Ele sabe como livrar o devoto da tentação, mas reinar na vida como Cristo fez pode também incluir o sofrimento. O crente submisso aceitará isto.Ele não ficará desiludido se a vida não for uma série contínua de experiências agradáveis. Ele não se tornará cínico se não tiver todos os desejos de seu coração.

Ele reconhecerá que o servo não é maior do que seu senhor. Seguir a Cristo exige negar a nós mesmos (Lc.9:23). Isto inclui negar nossos desejos egoísticos e pode incluir admitir nossos problemas.

Problemas nem sempre são indicação de falta de fé. Pelo contrário, podem ser um tributo à fé. Esta é a grande ênfase de Hb.11:32-40:

E que mais direi? Faltar-me-ia contando de Gedeão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel e dos profetas: os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos. As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento para alcançarem uma melhor ressurreição; e outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra. E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa: provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados.

                                  
Defender que todo o sofrimento resulta de confissões negativas e indica falta de fé contradiz as Escrituras. Alguns heróis da fé sofreram grandemente, alguns até morreram por causa da fé, e foram elogiados por isso.

Os crentes devem reconhecer a soberania de Deus

A ênfase da confissão positiva tem uma tendência para incluir declarações que fazem parecer que o homem é soberano e Deus, o servo. Declarações são feita a respeito de obrigar Deus a agir, o que implica dizer que Ele abandonou a Sua soberania, que Ele não está mais na posição de agir de acordo com a Sua sabedoria e propósito. Referências são feitas de que a verdadeira prosperidade é a capacidade de usar a capacidade de Deus e o poder de encontrar necessidades independentemente de que sejam tais necessidades. Isto põe o homem na posição de usar Deus mais do que o homem se entregar a si mesmo para ser usado por Deus.

Nesta visão, é dada muito pouca consideração à comunhão com Deus para se descobrir a Sua vontade. Há muito pouco apelo a buscar as Escrituras para se ter a estrutura da vontade de Deus. Há pouca ênfase no tipo de discussão que devem seguir os crentes que resulta na concordância de dois ou três sobre qual seja a vontade de Deus. Em lugar disso, o desejo do coração é visto como uma ordem que vincula a Deus. Ele é visto como algo que concede autoridade ao crente.

É verdade que Jesus disse: “E tudo quanto pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo.14:13). Mas as Escrituras também ensinam que o pedido deve estar de acordo com a vontade de Deus: “E esta é a confiança que temos n’Ele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que Lhe fizemos” (I Jo.5:14,15).

“Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus” (Sl.46:10) é ainda uma importante regra hoje. Deus é Deus. Ele não entrega Sua glória ou soberania para ninguém. Ninguém pode obrigar Deus a agir.

A autoridade do crente existe apenas na vontade de Deus, e é responsabilidade do crente descobrir e se conformar à vontade do Deus soberano mesmos nas coisas que deseja. As palavras de Paulo são ainda aplicáveis: “Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor” (Ef.5:17).

Quando os crentes reconhecem a soberania de Deus e de modo apropriado tornam-se preocupados com a vontade de Deus, eles não falarão em termos de obrigar Deus ou usar o poder de Deus. Eles falarão em se tornar servos obedientes. Eles desejarão se tornar instrumentos submissos nas mãos de Deus.

Os crentes devem aplicar o teste prático

Revendo os esforços daqueles que defendem este ensino da confissão positiva, fica evidente que o apelo básico é para aqueles que já são cristãos que vivem em uma sociedade farta. Eles encorajam um elitismo espiritual em seus aderentes, dizendo: “Nós cremos nas mesmas coisas que vocês. A diferença é que nós praticamos o que cremos”.

Um teste prático de uma crença é se ela tem uma aplicação universal. O ensino tem significado apenas para quem vive em uma sociedade farta? Ou isto também funciona entre os refugiados do mundo? Que aplicação tem este ensino para os crentes presos por sua fé por governos ateístas? Estão aqueles crentes que sofrem martírio ou graves prejuízos físicos nas mãos de ditadores cruéis e implacáveis abaixo do padrão?

A verdade da Palavra de Deus tem aplicação universal. Ela é tão efetiva nos bairros pobres quanto nos subúrbios. Ela é tão efetiva na selva quanto na cidade. Ela é tão efetiva em uma nação estrangeira quanto em nosso próprio país. Ela é tão efetiva tanto em nações pobres como entre as nações ricas. O teste do fruto é ainda o único caminho para determinar se um mestre ou um ensino é de Deus ou do homem: “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt.7:20).

Os crentes devem lidar cuidadosamente com a palavra “Rhema”

Em virtude de haver muito pouco literatura entre os que expõem o ensino da confissão positiva a respeito da palavra grega “Rhema”, é necessário considerá-la como usada primariamente em comunicação oral.

Uma distinção é feita geralmente pelos defensores deste ensino entre as palavras “logos” e “rhema”. A primeira — dizem eles — refere-se à “palavra escrita”; a segunda, para o que é presentemente falado pela fé. De acordo com esta doutrina, tudo aquilo que é falado pela fé se torna inspirado e toma conta do poder criativo de Deus.

Há dois grandes problemas nesta distinção. Por primeiro, a distinção não é justificado pelo uso em o Novo Testamento Grego ou na Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento). As palavras são usadas como sinônima em ambos.

No caso da Septuaginta, tanto “rhema” quanto “logos” são usadas para traduzir a única palavra hebraica dabar, que é usada em vários meios relacionados com a comunicação. Por exemplo, a palavra dabar (traduzida “Palavra de Deus”) é usada tanto em Jr.1:1 quanto em Jr.1:2. Mas, na Septuaginta, é traduzida “rhema” no versículo 1 e “logos” no versículo 2.

Em o Novo Testamento, as palavras rhema e logos também são usadas uma pela outra. Isto pode ser visto em passagens como I Pe.1:23 e 25. No verso 23,  é “o logos de Deus que…permanece para sempre”. No verso 25, “o rhema do Senhor permanece para sempre”. Novamente, em Ef.5:26, os crentes são lavados “com a lavagem da água pelo rhema”. Em Jo.15:3, os crentes “são limpos pelo logos”.

As distinções entre logos e rhema não podem ser sustentadas pela evidência bíblica. A Palavra de Deus, quer seja referida como logos, quer seja referida como rhema, é inspirada, eterna, dinâmica e miraculosa. Se a Palavra foi escrita ou falada, isto não altera seu caráter essencial. “Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que todo homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (II Tm.3:16,17).

Um segundo problema também existe para aqueles que fazem distinção entre as palavras logos e rhema. Passagens das Escrituras são algumas vezes selecionadas sem atenção ao contexto ou à analogia da fé, que eles reivindicam ser “palavras de fé”. Neste tipo de aplicação do assim chamado princípio rhema, os defensores desta doutrina estão mais preocupados em fazer a Palavra significar o que eles querem que ela signifique do que se tornar no que a Palavra quer que eles se tornem. Em alguns exemplos, torna-se óbvio que eles amam Deus mais pelo que Ele faz e não pelo que Ele é.

É importante que os crentes evitem qualquer forma de existencialismo cristão que isola passagens das Escrituras do contexto e faz algumas passagens eternas e outras, contemporâneas.

Conclusão

Ao se considerar qualquer doutrina, é sempre necessário perguntar se ele está em harmonia com o ensino total das Escrituras. Uma doutrina baseada em menos do que uma visão global da verdade bíblica pode apenas trazer dano para a causa de Cristo. Ela pode mesmo ser mais danosa do que doutrinas que rejeitam as Escrituras totalmente. Algumas pessoas aceitarão mais facilmente algo como verdadeiro se ela está relacionada com a Palavra de Deus, mesmo se o ensino é uma ênfase extrema ou contradiz outros princípios das Escrituras.

A Palavra de Deus firmemente ensina grandes verdades como a cura, a provisão das necessidades e a autoridade dos crentes. A Bíblia também ensina que uma mente disciplinada é um importante fator para a vida vitoriosa. Mas estas verdades devem ser consideradas na estrutura do ensino total das Escrituras.

Quando abusos ocorrem, há, algumas vezes, a tentação para deixar de crer nestas grandes verdades da Palavra de Deus. Em alguns casos, pessoas abandonam Deus totalmente quando descobrem que ênfases exageradas nem sempre encontram suas expectativas ou resultam em liberdade de seus problemas.

O fato de que aberrações doutrinárias se desenvolvem, não é razão para rejeitar ou manter silêncio a respeito delas. A existência de diferenças de opinião é, antes de tudo, a maior razão pela qual os crentes devem continuar diligentemente a pesquisar as Escrituras. É por isto que os servos de Deuspodem fielmente declarar todo o conselho de Deus.

Concílio Geral das Assembleias de Deus
                                  
Fonte: http://ag.org/top/Beliefs/Position_Papers/pp_downloads/pp_4183_confession.pdf Acesso em 16 dez. 2011
Tradução de Caramuru Afonso Francisco.


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