As Bem-Aventuranças do Antigo Testamento 3/4
Por Caramuru A. Francisco
III – AS BEM-AVENTURANÇAS NOS LIVROS DE SABEDORIA (PROVÉRBIOS E
ECLESIASTES)
A primeira ocorrência da palavra “bem-aventurado” no livro de Provérbios é
em Pv.3:13 em que se afirma que é “bem-aventurado o homem que acha sabedoria e
o homem que adquire conhecimento”. Aqui, sabemos todos, Salomão não está se
referindo à erudição intelectual, mas ao temor do Senhor, que é o princípio da
ciência (Pv.1:7). A origem da felicidade, pois, está em se achar a sabedoria,
que o próprio autor de Provérbios vai indicar que se trata de uma pessoa eterna
(Pv.8:22,23)., que outro não é senão o Senhor Jesus (Jo.1:1). A bem-aventurança
está em achar a Cristo, nada mais nada menos que isto.
OBS: “…No livro
mais remoto da Bíblia já encontramos apresentada a Sabedoria em forma de uma
pessoa, quando Jó disse: ‘Onde se achará a sabedoria?’ 28.12. No livro de
Provérbios, Salomão aconselhou o sábio a ouvir e crescer em ciência. Salomão
se refere à Sabedoria como tendo morada, como possuindo conhecimento, agindo
com discrição, dando autoridade aos reis e governadores; como possuída por
Jeová; estando presente no princípio com Jeová, antes da criação; a Sabedoria,
como arquiteto, enchia-se de gozo dia após dia; convidava para banquete etc.
Ora, considerando que o Verbo estava no princípio com Deus e tudo foi feito por
Ele, e sendo Ele o Unigênito de Deus, e vendo aqui a Sabedoria mencionada nas
mesmas circunstâncias do Verbo, vemos necessariamente nela a Segunda Pessoa da
Trindade, o Filho de Deus, Pv cap. 8.…” (NYSTRÖM, Samuel. Jesus Cristo, nossa glória. 2.ed., pp.39-40).
Em Pv.3:18, completando o raciocínio, o proverbista diz que
“bem-aventurados são todos os que retêm a sabedoria”, inclusive, diz o
proverbista, é melhor achar e reter a sabedoria do que ter mercadorias de ouro,
de prata, rubins e tudo o que se pode desejar (Pv.3:14-18). Salomão, que teve
riquezas provenientes de Deus em abundância, mostra que nada se pode comparar a
ter Cristo Jesus. Aprendamos esta verdade e não confiemos nas lorotas dos
“teólogos da prosperidade”!
Em Pv.8, que, conforme já vimos, é um capítulo em que a Sabedoria é
apresentada como uma pessoa, uma verdadeira descrição de Cristo, poder de Deus
e sabedoria de Deus (I Co.1:24), vemos no versículo 32 que é a própria Sabedoria
quem afirma que “bem-aventurados são os que guardarem os Meus caminhos” e, no
versículo 34, “bem-aventurado o homem que Me dá ouvidos, velando às Minhas
portas cada dia, esperando às ombreiras da Minha entrada”.
A bem-aventurança está, pois, em obedecer a Cristo, em buscá-l’O
diariamente, atentando para a Sua voz e jamais se distraindo com as coisas
desta vida, procurando sempre aprender d’Ele e desfrutar da Sua presença. O
proverbista, após indicar a segunda bem-aventurança, dá a razão de ser dela,
dizendo que o que A acha achará a vida e alcançará o favor do Senhor, mas o que
pecar contra Ela violentará a sua própria alma: todos os que A aborrecem amam a
morte (Pv.8:35,36). Como, então, podemos dizer que quem deixa a Cristo e vai
atrás das riquezas seja bem-aventurado?
Em Pv.14:21, o riquíssimo Salomão afirma que é bem-aventurado “quem se
compadece do pobre” e, dentro do paralelismo hebraico, aprendemos que
“compadecer-se do pobre” é “não desprezar o companheiro”. “Compadecer-se do
pobre” é não pecar, diz o proverbista. Portanto, bem-aventurado é quem não peca
e, quem tem abundância de bens, deve se compadecer do pobre, pois, se não fizer
isto, estará a pecar. Como, então, entender que são “homens ou mulheres de
Deus” os que costumam dar “testemunhos de prosperidade”, que dizem estar em
vida regalada mas que nem sequer mencionam ter alguma preocupação para com os
pobres e necessitados, preferindo-os tão somente chamar de “filhos do maligno”?
Em Pv.16:20, o proverbista, fazendo coro ao salmista, afirma que
“bem-aventurado é o que confia no Senhor”. No paralelismo hebraico, aprendemos
que “confiar no Senhor” é “atentar prudentemente para a Palavra” e vemos,
assim, a conjugação de duas bem-aventuranças já previamente analisadas: confiar
em Deus é atentar prudentemente para a Palavra, em outros termos, é obedecer à
Bíblia Sagrada. Aqui está a verdadeira felicidade do ser humano.
Em Pv.20:7, o proverbista diz que “bem-aventurados são os filhos do justo”.
Ter-se-ia aqui um caso de “bem-aventurança hereditária”? Nada disso! Os filhos
do justo são bem-aventurados porque o justo andou na sua sinceridade, ou seja,
por ter vivido em comunhão com Deus pôde ensinar, a começar do seu exemplo, os
seus descendentes, de forma que tenham sido eles educados na lei do Senhor e,
como tal, não se desviando de tais caminhos, também serão bem-aventurados. Os
filhos do justo não são bem-aventurados porque seu pai “ficou rico” em servir a
Deus, mas porque andou na sua sinceridade. Lembremos disso, amados irmãos, para
que não cair nas ciladas satânicas dos “pregoeiros da prosperidade”.
Em Pv.28:14, o escritor sagrado afirma que “bem-aventurado o homem que
continuamente teme”, o que, pelo paralelismo hebraico, entendemos que se trata
daquele que não endurece o seu coração e, deste modo, não vem a cair no mal. A
bem-aventurança está, uma vez mais, em ouvir a voz de Deus, em ser-Lhe
obediente, em negar a sua própria vontade para fazer a vontade do Senhor. Quão
diferente é esta bem-aventurança dos conselhos tresloucados dos “teólogos da
prosperidade” que querem submeter o Senhor a seus caprichos…
Em Pv.29:18, a bem-aventurança diz respeito a “guardar a lei”,
entendendo-se aqui, pelo paralelismo, que “guardar a lei” é ouvir a profecia,
ou seja, estar atento às mensagens do Senhor ao Seu povo. É interessante
observar que muitos “teólogos da prosperidade” desacreditam no dom espiritual
de profecia, como também, por distorcer as Escrituras, negam-nas, não buscam
ter uma visão global de seu teor, a mostrar, claramente, que não querem que os
seus ouvintes sejam bem-aventurados.
Em Pv.31:28, a mulher virtuosa é chamada de “bem-aventurada” tanto por seus
filhos e por seu marido. E por que seus familiares a chamam assim? Porque ela teme ao Senhor e, por isso,
pratica obras sublimes (Pv.31:29-31). Não é a sua formosura, nem tampouco a sua
riqueza que a faz bem-aventurada, mas o fato de temer ao Senhor, demonstrando
isto com suas obras. Poderia haver melhor final para o livro de Provérbios
senão essa assertiva?
A única ocorrência da palavra “bem-aventurado” em Eclesiastes está em
Ec.10:17, onde o pregador diz que a terra cujo rei é filho dos nobres e cujos
príncipes comem a tempo para refazerem as forças e não para bebedice é uma
terra bem-aventurada. Para bem entendermos este texto, devemos observar o
versículo anterior, onde o pregador diz um “ai” a respeito da terra cujo rei é
criança e cujos príncipes comem de manhã. O contraste estabelecido pelo
pregador mostra-nos que a felicidade da terra está em ter um rei e príncipes
sábios, prudentes, que bem sabem se conduzir no trato das coisa pública, que
sejam prudentes e não precipitados. Ora, como Salomão já indicara no livro de
Provérbios, ter sabedoria é ser temente a Deus, de modo que, mais uma vez,
vemos que as Escrituras ensinam que a bem-aventurança de uma nação se encontra
em temer a Deus, mais precisamente, no texto em apreço, no temor a Deus da
parte de seus governantes.
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